I SÉRIE — NÚMERO 33
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outros de caráter subjetivo, como a perceção e a tolerância do mercado. Todos estes elementos têm caráter
específico, porque a sustentabilidade é sempre analisada caso a caso.
Não existem, assim, números mágicos para aferir a sustentabilidade da dívida, porque a análise assenta
em todos estes fatores e é necessariamente situada no tempo. No caso português, e no momento atual, o
nível da dívida pública é reconhecidamente elevado mas sustentável. Importa compreender o que está na
origem do endividamento e considerar os indicadores macro-orçamentais mais recentes, à luz da perceção do
mercado sobre o País.
Importa também avaliar as opções que se colocam para reduzir a dívida, tendo presentes as suas
consequências últimas. Só então poderão os portugueses decidir, de modo informado, qual o caminho a seguir
para ultrapassar este desafio.
Na origem do endividamento público em Portugal está a indisciplina orçamental, em particular no período
que antecedeu o Programa de Ajustamento.
A dívida pública é a memória dos défices passados.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — Como qualquer agente económico, quando o Estado gasta
mais do que recebe, tem de contrair empréstimos para financiar essa diferença. Esses empréstimos fazem
aumentar a dívida no imediato e o pagamento dos juros devidos faz aumentar a despesa em cada ano,
ampliando a diferença que é necessário financiar. Podemos discutir o custo, a maturidade ou mesmo a
titularidade dos empréstimos. Mas não nos podemos esquecer do ponto mais importante e, na verdade, mais
simples: enquanto o País registar défices, terá de contrair empréstimos e irá acumular dívida.
Se queremos estancar a dívida, não podemos continuar a registar défices permanentes. Se a queremos
reduzir, temos de conseguir alcançar excedentes orçamentais. E se o queremos fazer de forma séria, não
podemos recorrer às práticas de desorçamentação usadas no passado, que apenas adiaram o problema por
alguns anos, apenas para termos de o enfrentar em piores condições.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — Hoje, o nível de dívida pública é, efetivamente, elevado.
Mas uma comparação séria com a primavera de 2011 não se pode limitar à evolução do stock da dívida.
Antes de mais, o stock reflete atualmente um valor significativo de depósitos, isto é, uma posição de
tesouraria mais confortável, que permite escolher os momentos de financiamento, sem correr o risco de rutura
que se verificou nas vésperas do pedido de assistência.
Em segundo lugar, o perfil de amortização da dívida é mais equilibrado do que no início do Programa,
beneficiando da extensão das maturidades dos empréstimos oficiais europeus em 2011 e 2013 e da gestão
permanente efetuada pelo IGCP (Instituto de Gestão do Crédito Público), nomeadamente através de
operações de troca — que, efetivamente, melhoram o perfil da dívida.
Por último, mesmo com um nível de dívida elevado, o Tesouro recuperou o acesso estável e regular ao
mercado. Esta conquista decisiva assentou na confiança e credibilidade acumuladas, mas também nos
progressos do ajustamento, destacando-se o registo de excedentes primários e a recuperação da economia.
Sendo certo que ainda persistem desafios, o esforço disciplinado dos últimos três anos já produziu
resultados importantes, resultados que as vozes mais críticas põem constantemente em causa, com
referências soltas à intenção de não honrar os compromissos assumidos. Esta solução extrema é até possível,
mas é importante ter presentes as suas repercussões: uma reestruturação unilateral abrupta teria custos
económicos e sociais muito elevados, e dificilmente benefícios para os portugueses. Não pagar o que é devido
afastaria de imediato os credores não apenas do setor público, mas também do setor privado, rompendo a
estabilidade financeira, limitando seriamente a capacidade de investimento e, por essa via, restringindo a
criação de emprego.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr.ª Ministra.