20 DE DEZEMBRO DE 2014
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consolidação orçamental inteligente e amiga do crescimento. Disse que não era possível aumentar mais
impostos e cortar mais no investimento público, coisa que este Governo tem feito.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Galamba (PS): — Também já sabemos que não é possível, quer por razões constitucionais,
quer por razões económicas, cortar mais nos salários e pensões. Portanto, Sr.ª Ministra das Finanças, neste
cenário, tem de encontrar uma alternativa. É que se não houver alternativa às suas políticas, então temos
mesmo de seguir a estratégia do PCP e do Bloco de Esquerda. Mas há alternativas, Sr.ª Ministra! E se este
Governo se batesse por elas e procurasse, concertado com outros países na União Europeia que têm
problemas semelhantes, adotá-las… Não sabemos se há receitas mágicas ou não, sabemos é que, se não
tentarmos, não conseguiremos nada.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem agora a palavra a Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças para
responder aos quatro pedidos de esclarecimento que foram colocados.
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — Sr. Presidente, gostaria de começar por fazer um
esclarecimento, porque tanto a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua como o Sr. Deputado João Oliveira disseram
que o FMI diz que a dívida é insustentável.
Srs. Deputados, o FMI não diz tal coisa. Aliás, as regras do FMI garantem que só é possível emprestar
dinheiro a um país, no âmbito de um programa de ajustamento, se a dívida for sustentável.
Bem sei que o FMI publica estudos sobre variadíssimas coisas que tiram todas as conclusões possíveis,
mas em todos, se os Srs. Deputados virem, se diz «esta não é a posição do FMI». Portanto, não vamos
atribuir ao FMI posições que não são do FMI.
Apenas para esclarecer, repito que o FMI diz que a dívida é sustentável. Em todas as revisões do
Programa era feita uma análise de sustentabilidade da dívida e sempre foi concluído que a dívida era
sustentável. É importante que isso fique absolutamente claro.
Os Srs. Deputados dizem que foram impostos sacrifícios para pagar os juros da dívida. Srs. Deputados,
temos de ter uma discussão realmente séria. Quando dizem que é preciso dinheiro para a indústria, para
recapitalizar a TAP ou para outra coisa qualquer o que os Srs. Deputados reconhecem é a necessidade de
haver financiamento. Ora, não há melhor forma de garantir que o financiamento desaparece do que começar
por dizer «nós não pagamos nos termos em que nos comprometemos».
Srs. Deputados, isso não funciona com Portugal, não funciona com ninguém. Se precisamos de
financiamento, não podemos começar por dizer que não pagamos, porque aquilo que nos permite ter acesso
ao mercado e ao financiamento e fazer operações de troca que melhoram o perfil e ir junto dos nossos
parceiros europeus e ter juros mais baixos e maturidades mais longas é a credibilidade de dizer que não
renegamos os nossos compromissos. O que fazemos é, em conjunto com os nossos parceiros, analisar as
condições, ir ao mercado e, em condições de mercado, propor trocas que dependem criticamente da
credibilidade de quem não renega os compromissos que assumiu.
Se seguíssemos a via que os Srs. Deputados do PCP e do Bloco de Esquerda propuseram, esse seria o
caminho mais seguro para acabar com o financiamento. E isso sim, Srs. Deputados, tem sacrifícios para os
portugueses muitíssimo mais gravosos do que aqueles que tivemos.
O Sr. Deputado Pedro Filipe Soares citou uma parte de uma frase minha, dizendo «apenas adiaram o
problema por alguns anos». Sr. Deputado, convém perceber onde é que a frase começou: «As práticas de
desorçamentação usadas no passado que apenas adiaram o problema por alguns anos». Eu não estava a
falar de adiar a dívida, estava a falar das práticas de desorçamentação e, portanto, a citação, sendo correta,
induzia em erro, porque não era sobre a dívida, mas sobre as práticas de desorçamentação, que, aliás, é
aquilo que são as ideias brilhantes relativamente ao investimento público. Para resolvermos o problema da
dívida, não refletimos a dívida nas estatísticas e fazemos de conta que ela não existe!