20 DE DEZEMBRO DE 2014
37
temos de olhar para ele com seriedade, mas também temos de aceitar que ele se traduz num presente, e o
presente é uma dívida pública que não é pagável, não é sustentável.
O Estado, hoje, endivida-se só para pagar dívida, não é para saúde, não é para educação, não é para
serviços públicos, e este é o problema. As metas são impossíveis, mas o esforço para lá chegar destrói o País,
é uma miragem, impede o País de crescer.
A solução do Governo, do PSD e do CDS-PP, da direita, é a de «não pagamos» — «não pagamos
pensões, não pagamos salários, não pagamos um futuro aos jovens, não pagamos um presente aos velhos
deste País»! Essa é a solução da direita!
Protestos do Deputado do PSD Hugo Lopes Soares.
A solução do PS, pelo que percebi neste debate, é a de uma terceira via recauchutada. A solução do PS é
a de pedir esmolas à União Europeia, é a de esperar por um milagre do Banco Central Europeu, é a de
esperar que a União Europeia mude. Aliás, a solução do PS parece ser a Merkel, porque a solução do PS
passa por convencer a Sr.ª Merkel a aceitar uma restruturação da dívida portuguesa, mas nem miragem disso
apareceu nos últimos três anos.
A pergunta que temos de colocar ao PS é a seguinte: e se a União Europeia não aceitar? E se a Sr.ª
Merkel não aceitar? E se Draghi não fizer o truque? O que é que acontece? Aceitam viver e governar nesta
destruição que denunciaram nos últimos três anos? Sejam coerentes! A proposta que têm é pedir esmolas à
União Europeia, por isso a pergunta que é preciso fazer é a seguinte: se a União Europeia não as der, o que é
que fazem nesse caso? É que, convenhamos, os sinais que temos desta União Europeia e desta união
monetária não são os mais favoráveis, pelo contrário são sempre na direção oposta. E não é o plano Junker
ou o plano Draghi que vão resolver este problema.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — A solução que o Bloco de Esquerda propõe é, de facto, uma alternativa,
pois oferece um futuro que não seja austeridade eterna.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Termino, Sr.ª Presidente, pedindo a mesma tolerância que concedeu
aos outros partidos.
Dizemos, com seriedade: sim, esta solução não é perfeita; sim, esta solução implica um confronto
duríssimo com as instituições europeias, mas esse é um confronto necessário para defender o País. Temos de
assumir isto, temos de assumir esta responsabilidade. Este confronto, em nome de uma restruturação da
dívida, é o que defende os portugueses, é o confronto que nos permite ter recursos por uma política industrial,
para apoiar os desempregados, para apoiar os pobres, para criar emprego. É o confronto de que precisamos
para não termos de vender o País a saldo a quem quer que venha comprar, venha de onde vier, em que
condições vier.
Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, só esta restruturação permite libertar os recursos que nos
possibilitam crescer.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Para terminar, a pergunta que fazemos é a seguinte: se todos
emigrarmos, quem é que fica para pagar a dívida?
Aplausos do BE.