20 DE DEZEMBRO DE 2014
35
grosso das pessoas são responsáveis e sensatas e que as soluções têm de ser um bocadinho mais realistas
e, portanto, falam também para elas?! Para isso é importante piscar os olhos a uns e a outros. O portugueses
percebem que os senhores não se vão comprometer com rigorosamente nada, que estão bem com todos. Isso
é muito útil, não tenho dúvidas, Srs. Deputados, porém não é nada credível.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados, há
quatro anos avançou-se, pela primeira vez, com a solução da renegociação da dívida por proposta do PCP.
Há quatro anos que temos vindo a insistir nesta solução. Há quatro anos que PS, PSD e CDS recusam as
nossas propostas, e o resultado está à vista: nestes quatro anos, PSD e CDS aumentaram mais de 50 000
milhões de euros à dívida que já tínhamos.
Neste debate, ouvimos uma vez mais, pela voz do CDS e do PSD, a repetição dos argumentos dos
credores, dos especuladores e do absurdo, com os anúncios da catástrofe. Se as Sr.as
Deputadas Cecília
Meireles e Elsa Cordeiro tivessem acompanhado a conferência de terça-feira provavelmente teriam feito uma
intervenção diferente daquela que fizeram, mais próxima da que fez o Sr. Deputado Nuno Reis, que, justiça lhe
seja feita, fez hoje uma intervenção bem mais moderada do que o que é hábito. Porquê? Porque confrontou os
exemplos da Argentina e do Equador, que o PCP trouxe àquela conferência de terça-feira, e teve a resposta.
Por isso, hoje, neste Plenário, não foi capaz de repetir os argumentos do absurdo que as Sr.as
Deputadas uma
vez mais trouxeram.
Fica a sugestão que demos há pouco à Sr.ª Ministra das Finanças: oiçam o vídeo da conferência, oiçam o
que foi dito sobre a experiência da Argentina e do Equador e perceberão que a renegociação a dívida não tem
de ser um desastre, não tem de ser uma catástrofe; pelo contrário, a renegociação da dívida é o processo que
permite evitar a catástrofe que os senhores, nos últimos três anos, impuseram ao País e que querem
perpetuar por décadas.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, o problema da sustentabilidade da dívida portuguesa não é só o de
pagar a sua amortização e os seus juros; é o problema dos sacrifícios que são impostos para fazer esse
pagamento. E os sacrifícios que os partidos do arco da dívida já impuseram aos portugueses e pretendem
perpetuar por décadas, mantendo a dívida como ela está, são os sacrifícios da destruição da economia, do
País e da vida das pessoas.
A política dos PEC, do pacto de agressão e da troica, que PS, PSD e CDS impuseram nos últimos anos,
tornam claro que a fatura do pagamento da dívida é a fatura da destruição do País e da dívida dos
portugueses. E se o pagamento da dívida atual implica essa fatura e essa política de destruição, então a
conclusão é só uma: a dívida é insustentável e precisa de ser renegociada.
Sr. Deputado Vieira da Silva, Srs. Deputados do Partido Socialista, não se enganem no alvo: o problema
não são os aplausos circunstanciais do PSD ou do CDS. O problema é o voto contra do PS em relação às
propostas de renegociação da dívida que o PCP tem sucessivamente apresentado. O problema não são os
aplausos circunstanciais, são posições estruturais do PS contra a proposta de renegociação da dívida, contra
a proposta apresentada pelo PCP e votando ao lado da direita. É esse o problema, Srs. Deputados.
A renegociação é uma condição para uma política de esquerda. Não é condição única, mas é uma
condição para se poder fazer uma política de esquerda. Sem renegociação da dívida não há condições para
fazer uma política de esquerda.
Por isso, ao longo destes quatro anos, temos vindo a apresentar, sucessivamente, uma proposta
consequente de renegociação da dívida, mas para fazer uma política diferente, para garantir a soberania ao
nosso País, para garantir o fim da especulação, do financiamento do Estado, para garantir uma política
económica que retome o controlo da economia portuguesa e que permita retirar o País do buraco para que ele
foi arrastado com 38 anos de políticas de direita. Trata-se de uma política que, partindo da renegociação da
dívida, devolva salários, devolva pensões, devolva prestações sociais, uma política que, a partir da
renegociação da dívida, dê ao Estado os instrumentos de que precisa para fazer uma política de investimento