I SÉRIE — NÚMERO 33
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público, de modernização do País, de preparação do País para responder aos desafios do presente, para
contruir um futuro de desenvolvimento, de progresso e de justiça social.
Quem se opõe à renegociação da dívida é à política de esquerda que se opõe e não se pode apresentar
aos portugueses com discursos de esquerda que não têm consequência nas opções políticas, que apenas
pretendem perpetuar por décadas a política de direita.
Sr.ª Presidente, para concluir, ao fim de quatro anos a insistir nesta proposta, o PCP é hoje acompanhado
por mais portugueses que já perceberam que a dívida é insustentável e que, só com a renegociação da dívida,
podemos sair da situação em que nos encontramos.
Na Assembleia da República, o PCP vai continuar a dar voz a esses portugueses que reclamam uma
política diferente e fora da Assembleia da República continuaremos a mobilizar todos os portugueses para que
a renegociação seja uma realidade e para que a política de esquerda, com os valores de Abril, possa ser uma
perspetiva de futuro no nosso País.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra a Sr. ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Não
há propostas nem soluções milagrosas ou simples para o problema da dívida, assim como não há explicações
simplistas sobre as suas causas.
A dívida pública — hoje temos a certeza — não é o resultado de serviços públicos, não é o resultado da
democracia, não é o resultado do Estado social ou do SNS; é o resultado de décadas em que o capital foi
favorecido com descidas de impostos.
Ela é o resultado dos offshores. E pergunto: em quanto é que a família Espírito Santo lesou o Estado
português em dinheiro que enviou para offshores? E quem fala na família Espírito Santo, fala em todas as
grandes empresas e multinacionais que operam neste País.
A dívida pública é o resultado de PPP ruinosas. Sim, é verdade, muitas PPP foram negociadas pelo PS,
mas muitas delas foram negociadas, por parte da banca, pelo atual Secretário de Estado das Infraestruturas,
Transportes e Comunicações, e isso também tem de ser dito.
Ela é o resultado da especulação financeira. É verdade: especuladores, Goldman Sachs, JP Morgan,
grandes bancos internacionais, bancos especuladores a quem o Governo foi entregar os CTT, as
consultadorias e os apoios para as nossas privatizações, ou seja, do que é nosso, do que é público, do que faz
a democracia em Portugal.
Ela é o resultado de swaps especulativos, mas também é o resultado do BPN e do Banif.!
Sobre desorçamentação, Sr.ª Ministra, pergunto porque é que o BPN e o Banif não entram para o défice,
quando os investimentos públicos, ou os subsídios de desemprego, ou o apoio à pobreza entram para o
défice. Que tipo de desorçamentação é esta que beneficia os interesses financeiros e prejudica o apoio aos
portugueses e a quem mais precisa deste apoio em Portugal?
Protestos do PSD.
Srs. Deputados, a dívida pública também é, por exemplo, o resultado de garantias do Estado.
Também gostava que houvesse resposta para o seguinte: porque é que o Governo, quando entregou a
ANA à Vinci, deixou ficar uma garantia estatal dentro da ANA? Hoje, a Vinci, concessionária privada da ANA,
que fica com os lucros que eram nossos, beneficia de uma garantia estatal. Isto também é dívida pública
criada por este Governo!
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — A Sr.ª Deputada sabe mais do que isso!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Também é preciso dizer que a recessão causa dívida pública. A
austeridade para acabar com a dívida causou dívida por causa da recessão. Este é o nosso passado, por isso