9 DE JANEIRO DE 2015
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Temos tido problemas graves nas escolas artísticas. Hoje vamos falar das duas escolas artísticas públicas
que temos no País: a Escola Secundária António Arroio e a Escola Secundária Soares dos Reis, que nos
trazem ao Parlamento a demonstração simples do absurdo por que estão a passar, neste momento, os alunos
do ensino artístico. Agradeço, por isso, aos alunos, aos professores e aos encarregados de educação destas
escolas o facto de terem apresentado esta petição.
O ensino artístico em Portugal tem, paradoxalmente, dois polos: é o melhor e, ao mesmo tempo, o mais
maltratado que temos.
É o melhor que temos porque o ensino artístico em Portugal, o ensino profissional artístico e as escolas de
ensino artístico especializado têm provas dadas na formação dos seus alunos; são escolas em que os alunos
aprendem, em que gostam de aprender, em que não há abandono escolar, em que a comunidade escolar
funciona, em que se faz do melhor que há no País e se faz com liberdade, com multiplicidade de
aprendizagem e com conhecimento amplo. É do melhor que temos.
Por outro lado, as escolas artísticas estão também no pior que temos no País. Estão no pior que há no País
porque os professores não são colocados e há um completo desprezo em relação ao ensino artístico. Estão no
pior que há no País porque não têm fundos e há neste momento escolas artísticas em que os professores não
recebem salário há três e quatro meses, alguns não receberam salário desde que o ano letivo começou. Estão
no pior que há no País porque, como cada vez têm menos orçamento, os alunos, que precisam de materiais
para fazer o seu trabalho — um trabalho profissional, especializado, artístico —, muitas vezes não têm
materiais para a sua formação.
O que de melhor tem o ensino artístico, aquilo que faz a comunidade escolar das escolas artísticas tem tido
de pior nas respostas que os Governos têm dado ao desprezarem este ensino competente, plural, livre, uma
experiência de aprendizagem que é extraordinária e que deve ser incrementada.
Mas, bem, esta petição é sobre um assunto concreto, é mais uma discriminação absurda: basicamente, o
Governo criou uma regra em que os alunos do ensino artístico especializado são considerados alunos de
segunda, não podem entrar para a universidade com as mesmas regras que os outros, apesar de serem
alunos que têm a componente de formação humanística e científica de todos os outros cursos e, para além
dessa componente, têm mais a formação especializada. Quando chega a altura de se pensarem as médias e
os exames para acesso ao ensino superior, um aluno que não é do ensino especializado, um aluno do ensino
corrente que tenha tido uma negativa numa disciplina e que tenha 10 valores no exame, pela forma como o
cálculo é feito, fica à frente de um aluno que tenha 20 valores no ensino artístico especializado.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Que alguém ache normal que um aluno do ensino artístico seja assim
penalizado quando a sua formação é das mais completas que há no País é um absurdo!
O que o Bloco propõe é, pura e simplesmente, revogar a asneira gigantesca que o Governo fez e, como é
natural, aprovaremos também os projetos que estão em discussão com outras soluções, porque todas as
soluções respondem melhor do que a asneira do Governo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva). — Srs. Deputados, gostaria que respeitassem o tempo com maior
rigor.
Para apresentar o projeto de resolução do PS, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Santa.
O Sr. Agostinho Santa (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Saúdo, em nome do PS, as
associações de pais e encarregados de educação das Escolas Secundárias Soares dos Reis e António Arroio,
autoras desta petição.
No seu seguimento, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista traz a este debate o projeto de resolução
que pretende dar-lhe sentido e efeito úteis.
Partimos de três dados de pressuposto.