29 DE JANEIRO DE 2015
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dizer na minha intervenção. Porém, fizemo-lo, Sr. Deputado, porque não temos receita para a despesa, e é
isso que os portugueses precisam de saber lá em casa.
Sr. Deputado, quando falamos de receita, estamos a falar do dinheiro que sai do bolso dos contribuintes,
porque cada tostão que se paga…
O Sr. Paulo Sá (PCP): — De alguns, não de todos!
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Com certeza que é de alguns, Sr. Deputado, porque, como há pouco
lhe disse, nós protegemos… No Orçamento que me pediu para ler, que li e aprovei, como sabe, alargamos
extraordinariamente e excecionalmente o número de pessoas que não estarão sujeitas a pagamento de IRS.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Para além disso, aliviamos as famílias com o quociente familiar.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Ó Sr.ª Deputada!…
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — No entanto, Sr. Deputado, nós somos um País que tem de ser
realista e os portugueses lá em casa sabem que a nossa despesa tem de estar no quadro da nossa receita e
que a receita sai do bolso dos contribuintes. É esse bolso dos contribuintes que vamos continuar a respeitar.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente. — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Vieira da Silva.
O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Vivemos um tempo de mudança na
União Europeia, um tempo que nos exige reflexão e ação.
Na passada semana, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou uma importante intervenção no mercado
da dívida, com o anúncio da disponibilidade para a compra de dívida pública dos países do euro numa escala
de dimensão significativa.
Poder-se-á discutir o real impacto de mais esta mudança do papel do BCE na política europeia, mas
existem duas constatações que são incontornáveis.
A primeira é a de que esta intervenção é uma tentativa de dar resposta a um grave problema que ameaça a
economia europeia: o problema da deflação.
A deflação é um sério problema, é um problema europeu e é um problema — mais um — de
consequências assimétricas, que acentua as desigualdades que são cada vez mais fortes nos países do euro
e da União Europeia.
E não restam dúvidas hoje que a deflação na Europa é da responsabilidade exclusiva daqueles que
conceberam e concretizaram a resposta da Europa à chamada crise das dívidas soberanas.
Foi a resposta «austeritária» e recessiva que aceitou a explosão do desemprego, a quebra, por vezes
brutal, de rendimentos, a contração da procura, que conduziu a Europa ao risco de uma prolongada
estagnação. Riscos de estagnação numa Europa que, em 5 anos, viu destruídos mais de seis milhões de
empregos.
E nessas escolhas, escolhas que marcaram dramaticamente a vida de milhões de europeus, o Governo de
Portugal esteve sempre do lado errado da História.
Aplausos do PS.
Esteve do lado dos que sempre se opuseram à intervenção do BCE nos mercados das dívidas soberanas,
do lado dos que procuraram impedir que essa intervenção se tenha feito mais cedo e, portanto, com mais
hipóteses de sucesso.