6 DE FEVEREIRO DE 2015
13
Mas vejamos com que pano de fundo: desde logo, o de um Ministério em desagregação, diminuído nos
seus recursos humanos e tolhido na sua capacidade de intervenção; o de um Ministério que, em pouco mais
de três anos, perdeu 14% do seu efetivo; o de um Ministério que já foi dois e agora é apenas metade; o de um
Ministério que, três anos volvidos, ainda vive uma fase de intenso experimentalismo, agora com as leis
orgânicas da inspeção-geral de tutela bicéfala, que, depois de fundida, se calhar, volta a ser alvo de cisão; o
de um Ministério que já teve presença em todo o território nacional e que agora vê centralizadas grande parte
das suas funções, desde logo, na mega-agência do ambiente, num modelo que alguém, certamente de férias
nos Estados Unidos, achou que era interessante aplicar em Portugal; o de um Ministério que rege a sua
intervenção com base numa lei de bases ultraliberal — rejeitada por todos os partidos da oposição — que
coloca em causa o edifício construído, até à data, no que às políticas públicas de ambiente diz respeito,
deitando por terra um imenso património coletivo.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Falar de congregação de vários regimes jurídicos e respetivos
procedimentos para obter o licenciamento ambiental e um Título Único Ambiental é, neste quadro, assaz
preocupante.
Falar do TUA (Título Único Ambiental), vindo da lua, perdão, do LUA (Licenciamento Único Ambiental),
num contexto de reforma do Estado, é muito preocupante.
E não basta acabar com mecanismos de designações extensas, como o Sistema Integrado de Registo
Eletrónico de Resíduos (SIRER), o Sistema Integrado de Registo da Agência Portuguesa do Ambiente
(SIRAPA) ou o Sistema Integrado de Licenciamento do Ambiente (SILiAMB), que o veio substituir, e criar
acrónimos saídos de livros infantis.
Estamos a tratar de coisas sérias, muito sérias, demasiado sérias, Sr. Ministro! Estamos a falar de como a
Administração consegue evitar, através de um licenciamento responsável e de uma fiscalização atenta,
situações como a que vivemos no passado recente, como o surto de legionella.
Referimo-nos à garantia de um ambiente são, em que a saúde pública se assume como pilar fundamental.
Referimo-nos à salvaguarda de valores ambientais, que, a pretexto de alguma morosidade e do excesso de
burocracia e para assegurar que a economia não enfrente obstáculos, são preteridos de forma flagrante.
Estranhamos, pois, o que nos é dito: que o investidor obtém todas as licenças ambientais exigíveis, dentro
de uma janela temporal máxima; que o regime contribui para uma maior competitividade das empresas; que o
regime permite reforçar e aliviar os mecanismos de controlo prévio.
E estranhamos ainda mais aquilo que não é dito.
Sr.ª Presidente — e vou terminar —, ainda que inexistente, são já muitas as dúvidas que temos sobre o
novo regime. Um regime, decerto, acoplado à irrelevância do Compromisso para o Crescimento Verde e
inserido numa lógica de economia verde que passa pela economia do licenciamento e não por um
licenciamento mais económico; um regime que vê a luz do dia pelas mãos de um Governo de muitas
promessas e ilusões e que transforma este Plenário numa sala de conferências conjunta com o PSD.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Segue-se a intervenção do CDS-PP.
Tem a palavra o Sr. Deputado José Lino Ramos.
O Sr. José Lino Ramos (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado: Um
processo, um título, uma taxa e um só prazo. Sr. Ministro, esta é uma má notícia para a oposição, mas é uma
boa notícia para os investidores, para a economia, para o ambiente, para os portugueses e para Portugal.
Vozes do CDS-PP e do PSD: — Muito bem!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Mas já conhece o diploma?!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Como é que sabe, Sr. Deputado?!