I SÉRIE — NÚMERO 48
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que o Governo quer reduzir à condição de «barrigas de aluguer» para, em contrapartida, haver mais parcerias
público-privadas, negócios milionários para os privados e ruinosos para o Estado e para as populações, como
está à vista e está na calha para Lisboa e para o Porto, caso permitam esta vossa política.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Coloco algumas perguntas concretas ao Sr. Secretário de Estado sobre a
Transtejo e a Soflusa. Confirma que estão em preparação operações de alienação de uma parte importante da
frota de navios da Transtejo? Confirma que os catamarãs e os ferriesChiado, Algés, Alentejense, Palmelense,
São Jorge e Martim Moniz, designadamente, vão ser retirados da frota? O que é que significa esta decisão?
Que consequência terá na operacionalidade do transporte fluvial? Que medidas estão a ser tomadas
relativamente à manutenção da frota, que está hoje a atravessar situações gravíssimas?
Para terminar, Sr.ª Presidente, não posso deixar de registar a espantosa afirmação que aqui proferiu sobre
um País honrado que cumpre os seus compromissos. Se calhar, estaria a pensar nos mais de 8000 milhões
de euros em juros da dívida que querem entregar do nosso dinheiro aos megabancos e à usura da dívida
pública.
Pergunto também ao Sr. Secretário de Estado o que tem a dizer, a esse propósito, sobre os reformados e
pensionistas do Metropolitano de Lisboa, cuja empresa tinha assumido contratualmente o compromisso
relativamente ao complemento de reforma e que os senhores, por decreto, unilateralmente e de uma forma
vergonhosa e inaceitável, lhes roubaram.
Protestos do PSD.
Os Srs. Deputados estão muito indignados com isto. Peço desculpa. Os senhores não roubaram; retiraram,
cortaram, eliminaram! Retiraram aos reformados e pensionistas o que era seu por direito assumido
contratualmente pelas empresas e pelo Governo. O que é que tem a dizer sobre isso, Sr. Secretário de
Estado?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — É bom quando há uma autocorreção do próprio orador.
Para responder, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado.
O Sr. Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações: — Sr.ª Presidente, Sr.ª
Deputada Helena Pinto, precipitou-se ao antecipar a minha resposta quando tentou antever que palavra diria
eu relativamente ao setor. Se me permite, utilizarei duas palavras para definir a política do Governo sobre o
setor: sustentabilidade e qualidade. São estas duas palavras que norteiam a nossa atuação.
Relativamente à sustentabilidade, por um motivo simples: nem o País, nem sequer o Memorando de
Entendimento e o pacote de ajuda tinham quaisquer condições ou verbas previstas para manter a situação
anterior do setor. O setor vivia, de facto, uma situação em que sobrevivia, criando sustentabilidade, ou não
sobrevivia, porque não havia quem o financiasse, nem interna nem externamente. Aliás, nem os nossos
parceiros internacionais previram qualquer verba para o setor dos transportes.
Relativamente à qualidade, o que pretendemos fazer foi o seguinte: ao criar sustentabilidade, criámos
regras nos concursos que lançámos — dou o exemplo do concurso que está, neste momento, a decorrer no
Porto — de maneira a que não apenas os ativos se mantenham na esfera do Estado (repito, os ativos das
empresas mantêm-se na esfera do Estado, não são transferidos para os privados)…
Protestos do BE.
… mas também, segundo aspeto, as obrigações de investimento na frota, nomeadamente da STCP, são
todas por conta do parceiro privado. Ou seja, como requisito do concurso, o privado investirá em nome do
Estado e este beneficiará desse investimento porque fica com os ativos no fim da subconcessão.