19 DE FEVEREIRO DE 2015
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seja, os empresários preveem investir menos em 2015, por causa das perspetivas de vendas que não existem
no País?
Aliás, a variação do investimento empresarial nas empresas exportadoras, segundo o inquérito ao
investimento, é de -5,1, para 2015. Como é que o Sr. Ministro compatibiliza uma viragem económica com o
facto de empresários dizerem que vão investir ainda menos no próximo ano, inclusive ou em especial nas
indústrias exportadoras?
Como é que o Sr. Ministro compatibiliza uma viragem bastante consolidada ao nível da economia e dos
indicadores económicos, principalmente em 2014 (e não quero fugir aos dados de 2014), quando, depois,
verificamos, nos gráficos desse inquérito, em relação a todos os indicadores económicos, que, em vez de uma
curva ascendente, temos índices com este aspeto: o indicador da atividade económica está longe, bastante
longe, de ter uma curva ascendente, diria até que traduz um fenómeno de alguma desilusão; o indicador do
volume de negócios na indústria (2013-2014) está bem longe de traduzir uma viragem económica; o índice do
volume de negócios (2014) está bem longe de refletir uma viragem económica, pois a curva é sempre descer
(respeita a 2014, mas com base em 2013, que já foi um ano mau); o índice de produção na indústria também é
sempre a descer (2014, baseado em 2013); o índice do volume de negócios nos serviços também é a descer.
Estes são os índices de volume de negócios e produção industrial que o INE apresenta nos indicadores
conjunturais, em dezembro de 2014.
Como é que o Sr. Ministro compatibiliza uma viragem económica com índices com este aspeto, com curvas
a descer? Não há nenhuma tendência crescente, nenhuma tendência consolidada.
Assim, é legítimo perguntar, Sr. Ministro, que viragem é esta e em que é que ela assenta. É que nós
olhamos para os indicadores e não encontramos evidências da viragem económica que aqui nos vem
apresentar. Não há evidências!
O PSD e o CDS insistem muito em falar da década perdida, a década de 2000. É verdade, a década de
2000 foi uma década perdida. O problema é que, em média, para esta década chegar sequer aos níveis de
investimento da década perdida, faltam 12 000 milhões de euros em investimento — em média!
Portanto, não vale a pena falarmos da década perdida, porque esta década vai ser muito pior do que a
década perdida. Com tudo o que estamos a recuperar, quem nos dera chegar à década perdida! E é assim
que nos encontramos, neste momento.
Sr. Ministro, perante isto, tem de nos dizer o que quer fazer para mudar a situação,…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É ir-se embora! O melhor é ir-se embora!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … que política económica é que tem.
É que, depois, abrimos os jornais e o que encontramos de investimento, em Portugal, são os chineses que
vêm comprar a EDP, a Fidelidade, a Espírito Santo Saúde, a REN, o BESI, e, em investimento imobiliário, uma
empresa que antigamente era investidora do BES e que comprou o Freeport. Venda de ativos não é
equivalente a investimento, mas é isto que vemos hoje quando abrimos qualquer jornal: mais 700 000 milhões
de euros de investimento imobiliário, em Portugal. São vendas de ativos, não é investimento em capacidade
produtiva e criação de emprego!
Portanto, Sr. Ministro, perante estes dados, em que é que se baseia para falar numa viragem económica?
Como é que explica os dados do INE? Como é que explica os vários indicadores de serviços e de indústria? E
como é que explica esta compra de ativos em massa? Isto é ou não investimento?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: Anemia do investimento, estagnação da economia e crise social é o tema do debate de hoje, mas
bem que podíamos estar a falar do título de um filme. Infelizmente, não é. Infelizmente, não se trata de um
filme, e muito menos de um filme de ficção.