I SÉRIE — NÚMERO 51
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do PS.
Tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba.
O Sr. João Galamba (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia, vou ser muito franco. O Sr.
Ministro da Economia não se limita a ser um mau Ministro, é também, infelizmente, um Ministro pouco sério,
porque as análises que fez aqui são absolutamente inaceitáveis.
A oposição confronta o Sr. Ministro da Economia com dados do INE e o Sr. Ministro — até vou citá-lo,
porque é quase caricato — diz assim: «Respeito os gráficos, mas os gráficos não podem iludir a realidade».
Sr. Ministro, pense 2 segundos nessa sua frase e perceberá rapidamente o disparate que isto significa!
São os empresários portugueses, não é o Partido Socialista, que desmentem todas as suas afirmações.
O Sr. Ministro da Economia veio aqui dizer que temos um crescimento com um perfil sustentável. É falso,
Sr. Ministro.
Olhemos, por exemplo, para 2010, o ano de todos os défices, o ano que precedeu a ajuda externa. Sabe
quanto é que crescemos, Sr. Ministro? Crescemos 1.9% do PIB, quase o dobro do que crescemos agora.
Protestos do CDS-PP.
E sabe qual foi o contributo da procura externa líquida, a diferença entre exportações e importações? Em
2010, foi de -0.2 e, em 2014, foi próximo de 1%. Ou seja, a única razão pela qual hoje não temos um défice
externo igual ao de 2010 é porque destruímos 350 000 empregos, porque destruímos a procura interna.
Por cada euro de PIB que a economia portuguesa possa crescer agora, o desequilíbrio externo será maior,
a procura externa líquida será mais negativa, Sr. Ministro. Este é um dado que o Sr. Ministro não pode ignorar.
E isto tem apenas um significado: no dia em que, com esta tendência, o Governo conseguisse — não vai
conseguir! — recuperar o emprego e a procura interna, garanto-lhe que teríamos um défice externo mais alto
do que tivemos em 2010. Isto não é uma opinião, isto é matemática, decorre de dados conhecidos, dados que
o Sr. Ministro ignora.
O Sr. Ministro disse que crescem mais do que na década perdida, mas isso é falso, a não ser que não
queira ser sério, porque entre 2000 e 2007 a economia portuguesa cresceu 1.5% em média. Só se incluir os
anos da crise financeira de 2008 e 2009 é que cresce aquele valor que o Sr. Ministro disse. Mas, se quiser
incluir esses anos, então olhemos para 2010. E responda ao seguinte: como é que é possível crescer mais
com uma deterioração — não é nível da balança externa, é deterioração — maior do que a de 2010? Que
transformação estrutural é esta? Não é nenhuma, Sr. Ministro da Economia!
Os empresários portugueses — uma bolsa de mais de 3000 empresários — são inquiridos, há anos, pelo
INE para o principal relatório sobre investimento em Portugal… Desculpe, Sr. Ministro, não é aceitável
desvalorizar e dizer que respeita, mas não iluda a realidade. A realidade é a que os empresários lhe dizem,
que é muito simples: o investimento, em 2014, já de si anémico, foi revisto em baixa e o de 2015, já de si
anémico, também foi revisto em baixa e é negativo. Isto não é uma questão de somenos.
A Sr.ª Presidente: — Terminou o seu tempo, Sr. Deputado.
O Sr. João Galamba (PS): — Termino, Sr.ª Presidente.
A prova cabal de que não há qualquer transformação estrutural e de que não há qualquer investimento que
aumente a capacidade produtiva do País está no facto de serem os próprios empresários a dizê-lo neste
inquérito do INE. Cito o que eles dizem: «O investimento deve-se apenas à tentativa de reposição de
capacidade produtiva». Ou seja, os empresários portugueses estão a tentar sobreviver a este Governo, não
estão a expandir, não estão a crescer, não estão a desenvolver, Sr. Ministro da Economia!
Ao fim destes quatro anos, para além da crise social que provocaram e que continuam a provocar, porque
os cortes sociais continuam, a única coisa que o Sr. Ministro conseguiu fazer foi provocar uma recessão. E
quando o Governo foi travado na austeridade, saíram da recessão mas não transformaram nada. Porquê? Um