I SÉRIE — NÚMERO 51
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Reparem: o Partido Socialista denunciou um dos principais instrumentos que nós tínhamos para captar
investimento e que funcionava como um mecanismo automático de capitalização das empresas, com meios
privados, porque eram os próprios lucros das empresas que, ao serem menos tributados, e não sendo
distribuídos em dividendos, permitiriam capitalizar mais as empresas. Da mesma forma — também está
previsto na reforma do IRC e, verdade seja dita, esse ponto foi apoiado pelo Partido Socialista —, iniciou-se,
com esta reforma, um caminho, que espero não seja cessado, de equilibrar as condições de financiamento
entre dívida e capitais próprios. Elas serão idênticas em 2017, como consequência do processo de reforma
que iniciámos em 2014.
Mas, pedirem-nos um consenso patriótico para pegar no dinheiro do Sr. Contribuinte Manuel ou da Sr.ª
Contribuinte Maria e, através da Administração Pública, de institutos públicos, decidir que empresas — se a a,
a b, a c ou a d — devem ser capitalizadas, propor a capitalização de pequenas e médias empresas, não pela
transformação possível de obrigações de dívida em capital, mas através de fundos públicos, reconheço que
pode ser uma via socialista, mas não é, seguramente, a via que nós defendemos!
O Sr. João Galamba (PS): — Dinheiros públicos só para bancos, não é, Sr. Ministro?!
O Sr. Ministro da Economia: — Finalmente, queria dizer ao Deputado Bruno Dias que o tema da
capitalização das pequenas e médias empresas preocupa-nos muito, aliás como o do financiamento geral das
pequenas e médias empresas.
O financiamento através do crédito melhorou, até agosto do ano passado, ligeiramente, para os setores
transacionáveis, mas não há sinais de que não tenha sido prejudicado, nomeadamente para as pequenas e
médias empresas, depois daquilo que se passou no Banco Espírito Santo.
Este é um tema que nos preocupa. Há uma evolução, no sentido certo, das taxas de juro, mas nós
reconhecemos que, para uma pequena empresa ou para uma empresa com um perfil de risco mais agressivo,
o diferencial das taxas de juro que se oferecem em Portugal, comparando com outros países europeus,
nomeadamente com os países da Europa do centro, é ainda substancial, e não é possível falar de
concorrência saudável na União Europeia quando empresas iguais, com balanços iguais, são financiadas com
taxas de juro que vão de 1 para 2 em função da origem do capital das empresas. Por isso, nessa matéria,
houve progressos importantes em 2014, mas que têm de ser continuados em 2015, nomeadamente através da
implementação da união financeira e bancária.
Relativamente aos instrumentos de capital, não propomos que a dívida dos bancos seja transformada em
capital. O que criamos é instrumentos para que essa dívida dos bancos possa transitar mais rapidamente para
outros investidores privados porque entendemos que não é uma boa solução para uma pequena empresa
viável, para uma média empresa viável, também para uma grande empresa viável, que está sobreendividada,
manter esses níveis de dívida sem ter recursos para poder investir e crescer. É preferível que haja incentivos
para transferir essa dívida em capital, nomeadamente se for detido por privados. Foi nesse sentido que
dissemos que é preferível ser dono a 50% ou a 60% de um projeto que tem possibilidades e recursos para
crescer do que ser o único acionista, a 100%, de um projeto que não tem capital para crescer.
Passo agora a responder à Sr.ª Deputada Mariana Mortágua. Respeito os gráficos que apresentou, não os
verifiquei, mas eles não podem iludir a realidade. A realidade não é brilhante, mas o ano de 2014 foi um ano
de viragem económica. Prova-o a evolução do emprego, a redução do desemprego, prova-o a evolução do
PIB, que cresceu 0,9% — estive e reler o discurso da oposição quando apresentámos o Orçamento do Estado
para 2015 e não houve um único Deputado da oposição que acreditasse que a economia portuguesa podia
crescer em 2014 —, e provam-no também os números do investimento que temos disponíveis. Depois de uma
previsão (e não sou especialmente dotado para lidar com previsões, prefiro lidar com a realidade) de
crescimento de 0,8% em 2014, os indicadores que temos são os de que o investimento terá recuperado cerca
de 6% em 2014, com um crescimento de 11% nas máquinas e equipamentos e de 22%, nos equipamentos de
transporte.
Diz a Sr.ª Deputada que os inquéritos que se fazem aos empresários, neste momento, apontam para um
sinal negativo. Não lhe consigo explicar porquê. Aliás, talvez consiga. É que 2015 é ano de eleições e talvez
os investidores e os empresários tenham algum receio de que o Partido Socialista volte ao poder!