I SÉRIE — NÚMERO 51
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O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Filipe
Matias.
O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Sr.
Ministro, acabámos de ouvir o Partido Socialista acusá-lo de ter apenas soluções fiscais, mas não se
preocupe, porque antes ter soluções fiscais do que ter problemas de endividamento, algo em que o PS foi
useiro, obreiro e, infelizmente, vezeiro relativamente à herança que deixou para Portugal pagar e para os
portugueses terem de suportar.
Infelizmente, ouvimos demasiadas vezes a oposição atacar sem ter a clareza de dizer qual o ponto de
partida, o contexto, as decisões e os responsáveis, que, a dado momento, condicionaram as nossas opções e
que exigiram que, neste tempo, houvesse coragem e competência para dar respostas.
Quando se fala nas soluções reformistas e quando se debate a urgência e o porquê, devíamos ter a
consciência, em primeiro lugar, de que Portugal não começou em junho de 2011 e que a nossa situação de
pré-insolvência devia ser mais conhecida pelos portugueses, para, por um lado, perceberem a gravidade dos
problemas, a irresponsabilidade e a incompetência de quem os arranjou, mas, por outro, terem noção do
porquê da urgência de se agir e reformar.
A história deste tempo não começou em 2011, pelo que compreender o que nos levou ao resgaste é o sinal
fundamental de que não queremos esquecer o que passou, que aprendemos a lição e que desejamos corrigir
os erros e não mais repeti-los.
Em junho de 2011, as faturas das sucessivas festas originaram dívidas que mostraram que se alavancou o
crescimento com o endividamento. Só assim se explica que, entre 2000 e 2011, a dívida pública bruta tenha
crescido 131 mil milhões de euros. Houve, pois, despesa a mais e utilidade a menos. Houve dívidas para
pagar, e eram muitas, e a crise financeira, que era usada como justificação, não foi a causa.
A crise financeira também não foi a causa no setor rodoviário, onde o passivo era de 20 mil milhões de
euros; não foi a causa da dívida no setor dos transportes, onde o passivo era de mais de 17 mil milhões de
euros; não foi a causa da dívida acumulada na saúde, onde tal era superior a 4 mil milhões de euros; e
também não foi a causa na energia, onde houve uma festa incompetente que protegeu interesses e custou
demasiado dinheiro.
A verdade é que, em 2011, tínhamos uma dívida tarifária acumulada de cerca de 3 mil milhões de euros. A
verdade é que a oposição, quando fala de austeridade, devia condescender que a realidade demonstra a
necessidade de um ajustamento que, feito com coragem, consciência social e sem olhar a interesses, seria
fundamental e apelaria a um esforço coletivo.
Se em todas as áreas houve cortes, poupanças, procurando tornar sustentável o papel do Estado, na
energia este é o exemplo paradigmático e central de como se pôde devolver sustentabilidade cortando nas
chamadas «rendas excessivas».
Foi este o primeiro Governo que cortou 3400 milhões de custos no sistema, que evitou aumentos tarifários
de 11% a 13%, entre 2013 e 2014, que potenciou a tarifa social, que foi forte com os mais fortes, protegendo
quem mais precisa, mas nunca perdendo a noção de que é fundamental ter um sistema energético
sustentável.
Esta proposta, que visa alargar a contribuição extraordinária do setor energético, chama mais uma vez aos
sacrifícios quem mais pode em benefício de todos: os consumidores, as empresas e a economia real.
Apesar de ser uma medida aplicável a todos os subsetores, procura dar resposta a desequilíbrios que
ainda existiam do ponto de vista das cláusulas take-or-pay ao nível do gás natural. O preço do gás natural é,
hoje, dos mais caros da Europa, o que não encontra razões de operação ou de racionalidade.
Por isso, apresenta-se, com esta proposta, mais uma resposta para beneficiar os consumidores e a
competitividade das nossas empresas, pois este alargamento do âmbito da contribuição extraordinária vai
permitir que se desça o preço do gás natural aos consumidores, o que é bom para a economia e para as
nossas famílias.
No setor da energia, também fica claro que esta proposta demonstra que fomos fortes com os fortes, não
perdendo o ímpeto reformista e criando mecanismos que devolvem sustentabilidade a um sistema.