I SÉRIE — NÚMERO 51
36
É por isso, Sr. Deputado, que dizemos que a nossa proposta traz um contributo que é naturalmente
indispensável para o debate e para a solução legislativa adequada. Por isso, também depende deste debate a
posição que todos nós viermos a assumir.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, não havendo mais inscrições, dou por concluído o
debate, ocorrendo a votação na próxima sessão de votações.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, peço a palavra para uma intervenção.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, faço um apelo para que os Srs. Deputados se
inscrevam atempadamente.
De acordo com as regras regimentais, eu deveria ter encerrado o debate.
Tem a palavra, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs.
Deputados: Este debate trata, no fundo, de um alargamento da lei atualmente existente. E devo dizer que, por
parte do Bloco de Esquerda, nada nos move na defesa dos lucros abusivos da Galp e numa construção
legislativa que, de facto, defendeu esses lucros abusivos ao longo de muitos anos.
Por isso, se o resultado da aplicação desta lei for para trazer mais justiça, obviamente que ninguém pode
dizer que é contra.
Mas há aqui uma história que devemos ter presente, porque é a história que resume, por um lado, como é
que temos empresas do setor energético que têm tanto dinheiro e tanto lucro ano após ano e, por outro, como
é que depois temos esse dinheiro a ser subtraído quer à economia quer às famílias.
Esta história envolve um termo muito simples, que se chama segmentação: é a segmentação do setor da
eletricidade, é a segmentação do setor do gás natural, é a segmentação — isto é, partir o que existia para,
depois, se poder vender mais facilmente e, com isso, dizer que se tinha ganhos de eficiência.
Ora, nós não vimos quaisquer ganhos de eficiência, o que vimos foi os ganhos das empresas privadas a
crescer ano após ano e a fatura das famílias e da economia a ser cada vez maior, ano após ano.
E essa consequência decorre da alteração legislativa e dessas vontades políticas.
E o Sr. Ministro, particularmente nesta matéria, tem tido uma espécie de «fuga para a frente», porque nos
diz que o problema nunca será um problema nacional, que vamos resolver as questões nacionais com uma
alteração europeia e, quase que num «passe de mágica», diz que a saída aqui será a das interligações, quer
de eletricidade quer de gás natural, para o resto da Europa.
Sr. Ministro, mais uma vez, esse é um discurso teórico, macro deste problema e não há uma crítica a fazer
a essa teoria macro. Há é, depois, sempre as críticas à aplicação no concreto.
Aplicando no concreto, continuamos a ver que o défice tarifário cresceu por culpa das alterações
legislativas e foi criado com essas alterações legislativas, mas quem tem pago sempre são as pessoas e por
isso é que elas pagam muito mais do que deveriam pagar, quer de eletricidade quer de gás natural.
Depois, há sempre a resposta que o problema, sendo resolvido no exterior, está dependente de escolhas
europeias e não de escolhas nacionais. E quando se pergunta quanto custa, por exemplo, termos as
interligações para França, quer de eletricidade quer de gás natural, as respostas, para começo de qualquer
conversa, é a de que estamos a falar de dezenas de milhares de milhões de euros — isto, só para início de
conversa, porque nem sequer estamos a falar, depois, no levar este projeto ao limite.
Por isso, vamos bater novamente num ponto fundamental: os cifrões, neste caso os símbolos do euro,
serão novamente uma fatura a passar às pessoas? Estaremos nós a pagar por este sonho de
internacionalização do setor energético português? Vai sair-nos novamente mais caro, com mais dívida
tarifária, estas escolhas a nível europeu? Creio que estas são as perguntas que se devem fazer.
Dirá o Sr. Ministro: «Mas isso é muito mais do que o que estamos a discutir hoje!». É verdade que é muito
mais do que o que estamos a discutir hoje, mas também não podemos olhar para a árvore e dizer que não há
uma floresta que envolve esta árvore. É quase como, voltando ao início da minha intervenção, estarmos a