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I SÉRIE — NÚMERO 53

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O Sr. João Oliveira (PCP): — Está, está!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Por mais estranho que lhe possa parecer, estou a defender as minhas

convicções, não as de outros, mas as minhas convicções, Sr. Deputado. E enquanto estiver a defender as

minhas convicções e elas se comprovarem como positivas para o meu País, tenho a consciência de estar a

fazer aquilo que devo. E no dia em que o País achar que assim não é tem uma boa forma de resolver o

problema. Mas não é o Sr. Deputado.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, constatamos um claro

alinhamento do seu Governo com o Sr. Ministro das Finanças alemão e não é por acaso que quando ele

afirmou que Portugal é a prova de que os programas de ajustamento funcionam o Governo ficou todo

contente. Aliás, vimos aqui a expressão desse contentamento.

De facto, é uma meia verdade. Funcionou, mas a questão está em saber para quem. Funcionou para os

megabancos alemães, para o capital financeiro — é evidente que funcionou!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — E para o País? E para os trabalhadores e para o povo português?

Quais foram as consequências? É aqui que o seu discurso colide com a realidade.

Há 15 dias, no debate quinzenal, e num quadro geral em que nós, sistematicamente, denunciamos o

aumento do desemprego e da pobreza, o Sr. Primeiro-Ministro, com aquele estilo que o caracteriza, disse

«não senhor, lá está o PCP a exagerar!». Veja lá o azar que, à tarde, já depois do debate, o INE veio dizer que

a pobreza em Portugal atinge números assustadores.

Como explica essa imagem de sucesso de que estamos a ver sinais por todo o lado de que estamos a sair

do buraco, quando, de facto, a pobreza em Portugal, que é paradigmática, tem atingido milhões de

portugueses, particularmente crianças?

Como é que pode dizer que está tudo bem, quando vemos, em relação ao Serviço Nacional de Saúde, esta

situação dramática que leva ao desespero milhares e milhares de portugueses?

Que sucesso é este que empurrou para a emigração centenas de milhares de portugueses, muitos deles

formados aqui, com custos que o País e as famílias tiveram de pagar, e que foram a custo zero para o

estrangeiro?

Vozes do PCP: — Bem lembrado!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Que sucesso é este, Sr. Primeiro-Ministro, quando verificamos que

essa dívida que referíamos aumentou para níveis insustentáveis?

Sr. Primeiro-Ministro, nós defendemos, de facto, a renegociação. O Sr. Primeiro-Ministro coloca-se sempre

na posição de defensor dos credores. Nós consideramos que os devedores também têm direitos e que a

renegociação da dívida é um elemento fundamental para evitar aquilo que muitas vezes os senhores

proclamam. É que um dia não vamos poder pagar!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — É claro, não estará cá, quem vier atrás que feche a porta… Mas

estamos a discutir um problema de fundo, estrutural para a sociedade portuguesa.

Sr. Primeiro-Ministro, deixe-se dessa conversa de que tudo vai bem ou de que agora está tudo no bom

caminho. A realidade desmente-o e, por isso mesmo, pode manter por muito tempo — já não tem muito —