21 DE FEVEREIRO DE 2015
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Mas se o Sr. Deputado diz que, para garantir esse investimento, o melhor seria renegociar a dívida o
resultado seria o mais perverso. No dia em que Portugal desencadear um processo de renegociação da dívida
o investimento que pudesse ser feito com recurso a financiamento externo desapareceria imediatamente.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Isso não aconteceu em país nenhum!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Imediatamente, Sr. Deputado! Imediatamente!
Essa é, de resto, a razão por que os países que passam por esse tipo de processos sabem que a fatura
que pagam, no dia a seguir, pela renegociação da sua dívida, isto é, pela ideia que se tem de que ela tem de
ser objeto de uma redução com perdas para os credores, é a de que não contam com esses países para o
investimento. É assim, Sr. Deputado!
O Sr. João Oliveira (PCP): — O Equador e a Argentina desmentem-no!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, a essa questão respondo como já respondi variadíssimas vezes
nestes debates parlamentares.
O Sr. Deputado acha que Portugal deve renegociar a dívida. Eu acho que não, Sr. Deputado! Acho que nós
temos uma dívida sustentável, apesar de termos contraído uma dívida muito elevada, que nos cria restrições,
sobretudo à área pública, mas nada impede que a área privada possa ser mais dinâmica — pode e deve — e
o Estado deve facilitá-lo, tanto mais quanto conseguir que as suas responsabilidades possam ser bem
endossadas. Portanto, temos exatamente a perspetiva contrária.
Mas, Sr. Deputado, deixe-me dizer-lhe que não há nenhum acinte em relação à Grécia. Não sei onde é que
o Sr. Deputado foi detetar qualquer acinte em relação à Grécia. Portugal tem sido um País que tem contribuído
ativamente para ajudar a Grécia, tal como outros parceiros europeus ajudaram a Grécia, Portugal ou a Irlanda.
Protestos dos Deputados do PS João Galamba e Isabel Alves Moreira.
Talvez o Sr. Deputado achasse interessante que o Governo português estivesse contra o Governo grego
ou contra a Grécia. Não estamos, Sr. Deputado! Não há nenhum acinte em relação à Grécia! Pelo contrário,
tomara eu que o Governo grego encontrasse uma boa solução para o problema que suscitou e que a Grécia
consiga resolver os seus problemas. Está, pelo menos, a contar com a nossa ajuda!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Então, porque é que alinha com a Alemanha?
O Sr. Primeiro-Ministro: — Já disse, e reafirmo, que Portugal contribuiu, não apenas com empréstimos
bilaterais, mas também fazendo uma coisa — que nenhum outro país tem, apenas a Grécia —, que é devolver
à Grécia todas as margens registadas com os rendimentos dos títulos de dívida pública,…
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
… mas também com os resultados de mais-valias, isto é, de outros rendimentos que possam ter sido
gerados pela detenção desses títulos. Portugal era, em termos de proporção do PIB, aquele que detinha mais
títulos de dívida grega, imagine o Sr. Deputado! Portanto, somos, de longe, o país que mais devolve à Grécia.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Porque é que alinha com a Alemanha, Sr. Primeiro-Ministro?
O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, Sr. Deputado, essa ideia de que existe um acinte não tem qualquer
fundamento. O que esperamos é que a Grécia, apesar de tudo aquilo por que que já passou, consiga
encontrar um quadro que lhe permita poder sair da situação de dependência externa, na qual ainda
permanece, e que possa encontrar a sua autonomia, tal como nós encontrámos, tal como os irlandeses
encontraram e tal como esperamos que Chipre possa vir a encontrar.
Finalmente, Sr. Deputado, deixe-me só dizer-lhe que não estou a lutar pela minha sobrevivência política.