26 DE FEVEREIRO DE 2015
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A Sr.ª Deputada Teresa Leal Coelho pediu a V. Ex.ª que nos fizesse chegar o desmentido que o Sr.
Primeiro-Ministro terá feito chegar a esta Assembleia, dizendo que o Dr. Jorge Silva Carvalho nunca tinha sido
convidado para coisa nenhuma. Peço-lhe que, se o Sr. Presidente o conseguir encontrar, faça o favor de no-lo
fazer chegar. E desejo-lhe muito boa sorte nessa pesquisa, Sr. Presidente, porque nós nunca o vimos.
Risos e aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Procurarei desincumbir-me dessas duas missões, embora tenha a
sensação de que ambos os Srs. Deputados ouviram o que era solicitado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não perca tempo!
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda, para fazer uma
declaração política.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: Existe hoje um enorme
consenso internacional contra o consumo de organismos geneticamente modificados. Esse consenso alarga-
se também à esmagadora maioria dos governos europeus. Foi por este motivo, aliás, que a União Europeia
mudou recentemente as regras do jogo sobre a autorização de organismos geneticamente modificados.
Em 2013, a agroquímica Monsanto anunciou que ia desistir de tentar a aprovação do cultivo de novas
variedades de OGM na Europa. Tudo porque era extremamente difícil consegui-lo. Primeiro, a Autoridade
Europeia para a Segurança Alimentar teria de dar luz verde e depois a decisão era tomada pelo voto dos
representantes dos Estados-membros. Acontece que, como disse, a esmagadora maioria dos governos
europeus se opõe aos OGM, logo a aprovação da introdução de novas espécies não existia, de facto.
Desde 2005, a Autoridade tinha dado luz verde a oito variedades, mas nenhuma conseguiu a autorização
na Comissão Europeia.
Existem apenas dois organismos autorizados para cultivo na UE: o milho MON810 da Monsanto e a batata
Amflora da BASF. Acontece que em 2012, a BASF decidiu deixar de cultivar a batata na Europa precisamente
devido à hostilidade que este tipo de cultivo gera no nosso continente.
Resumindo, sobra uma única variedade de milho. A oposição dos povos e a rejeição dos governos
impediram o alastramento dos OGM na Europa. Vários países proibiram mesmo o cultivo de OGM nos seus
territórios e na União Europeia apenas uma minoria de cinco países o permitem. Espanha, com 132 000
hectares, e Portugal, com 8500 hectares, são os principais produtores, a que se juntam a República Checa, a
Roménia e a Eslováquia.
É esta a realidade dos OGM na Europa. A vontade dos povos é inequívoca. Por isso mesmo, a União
Europeia mudou as normas relativas ao cultivo, abstendo-se de legislar ela própria, devolvendo aos Estados o
poder da tomada de decisão. Atribuíram aos Estados-membros a possibilidade de limitar ou proibir o cultivo
nos seus territórios, o que, aliás, na prática já se verificava.
O Governo português não tem agora o condicionamento da maioria dos governos mas sabe que está
isolado na União Europeia. Sabe também que está isolado no próprio País. Recusamos que Portugal seja uma
ilha na Europa e que seja o paraíso dos OGM na Europa.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Foi uma má decisão, entretanto, da União Europeia. A própria União Europeia
deveria ter corrigido o modelo europeu de autorizações e devia ter aplicado, ela própria, o princípio da
precaução em relação às consequências na saúde pública e na biodiversidade genética.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Mas não, as instituições europeias preferiram virar a cara. Temos enormes
preocupações com esta decisão, que partilhamos, aliás, com várias organizações não governamentais da área