26 DE FEVEREIRO DE 2015
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Em primeiro lugar, a medida que determina que um município possa ser considerado livre de OGM, na
nossa opinião, está invertida, porque desde que um agricultor se recuse a que o seu município seja
considerado, ele não o pode ser e devia ser o contrário, ou seja, desde que houvesse pelo menos um
agricultor que não quisesse a plantação de organismos geneticamente modificados no seu município, esse
impedimento devia ser considerado, até porque há problemas diversos relacionados com esta matéria,
nomeadamente de polinização cruzada, que, hoje em dia, são muito concretos. Aliás, as multinacionais têm
estado a processar agricultores que possuem variedades geneticamente modificadas quando não as
plantaram, ou seja, quando chegaram à sua posse por polinização cruzada com as variedades que utilizam.
No que se refere à população de abelhas, temos outro problema, que o Sr. Deputado também abordou,
derivado da utilização de OGM. Conhece-se o caso da Argentina, que era o segundo produtor mundial de mel
e que em cinco anos passou para quinto produtor, quando a plantação de OGM foi alargada. Em Portugal, as
colmeias estão em colapso, com implicações em termos de polinização e até implicações económicas no setor
agrícola.
Infelizmente, sobre a possibilidade, agora, de os Estados-membros poderem determinar sobre esta
matéria, também a Sr.ª Ministra da Agricultura veio dizer-nos o Governo nada fará sobre esta questão,
permitindo que se mantenha a utilização destes organismos em Portugal.
Da parte do PCP, temos vindo a fazer intervenção, já entregámos projetos de lei, projetos de resolução.
Infelizmente, o projeto de lei foi chumbado, pelo que nos preparamos para entregar outro projeto de lei, face a
esta nova realidade, que admita a plantação de organismos geneticamente modificados apenas em ambiente
controlado e para fins muito específicos, nomeadamente os fins de investigação e medicinais, proibindo todos
os outros.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Ramos (PCP): — Termino já, Sr. Presidente.
Sr. Deputado, a pergunta, muito concreta, é a seguinte: afinal, para que serve este lavar de mãos do
Governo português ao não querer intervir nesta matéria? Serve o interesse nacional ou serve um conjunto de
interesses de multinacionais que estão muito instaladas nesta matéria.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para pedir esclarecimentos, tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada
Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Luís Fazenda, quero também
saudá-lo pelo facto de ter trazido a questão das culturas transgénicas a esta sessão de declarações políticas,
hoje.
Falou-nos da questão da União Europeia ter agora remetido a decisão sobre o cultivo de transgénicos para
os Estados-membros. Não é uma questão que, por si, nos deixe absolutamente descansados, porque o peso
da pressão das multinacionais sobre um Estado isolado pode ditar uma maior fragilidade desse Estado
relativamente a essa pressão e isso é algo a que devemos estar muito atentos. Mas preocupa-nos
sobremaneira a posição do Governo português, que o Sr. Deputado também referiu, porque, relativamente às
culturas transgénicas, o Governo português tem uma ideia como se elas se fizessem em laboratório, em
caixinha fechada, e não fossem feitas em campo aberto, havendo, de facto, hipóteses reais de contaminação.
A questão é de tal ordem que o Governo se recusa a divulgar a localização das culturas transgénicas em
Portugal. Ou seja, a sociedade, as pessoas, em concreto, estão elas próprias impedidas, diria mesmo, de
fiscalizar, de observar os próprios efeitos diretos das culturas transgénicas.
Essa localização não é divulgada pelo Governo. O que é que o Governo teme? Melhor perguntado, talvez,
Sr. Deputado: o que tem o Governo a esconder relativamente a esta matéria?
Ora, nós, Os Verdes, face a esta posição da União Europeia de remeter a decisão do cultivo de
transgénicos para os Estados-membros, entendemos que os partidos que se têm refugiado em argumentação
no sentido de dizer que «nós não aqui não devíamos fazer nada, porque se a União Europeia decide,