27 DE FEVEREIRO DE 2015
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Assim, para apresentar o projeto de resolução do Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Hoje, como devem saber,
tivemos, até há minutos, alunos do Conservatório Nacional a tocar nas escadarias da Assembleia da
República, para que não nos esqueçamos que as goteiras não são metrónomos e que os alunos têm de poder
estudar sem ter medo que o teto lhes caia na cabeça.
Agora, temos aqui professores, alunos, escolas do ensino artístico especializado para que não nos
esqueçamos que, em Portugal, está a acontecer algo que julgávamos impossível.
Quando uma criança está na escola pública passa da aula de português, em que o professor tem o seu
salário, para a aula de música, em que o professor tem o salário há quatro meses em atraso. É isto que está a
acontecer quotidianamente nas nossas escolas, na escola pública: professores a trabalharem todos os dias
com as nossas crianças, com os nossos jovens, a cumprirem os seus currículos e que não estão a receber
salário. São problemas diferentes, o do Conservatório ou o do financiamento do ensino artístico, mas têm a
mesma raiz e têm tido a mesma atitude de desresponsabilização por parte do Governo.
A mesma raiz é o desinvestimento no ensino e o particular desprezo pelo ensino artístico. O mesmo jogo
de sombras de desresponsabilização porque estamos a debater na Assembleia da República um tema que é
da responsabilidade do Governo, que não precisaria, sequer, de estar aqui a ser debatido na Assembleia da
República e que já podia e devia estar resolvido.
Chamo a atenção que, há dois dias, disseram ao Bloco de Esquerda que não era necessário que o Ministro
Nuno Crato viesse cá explicar o que se passava no Conservatório Nacional porque estava tudo encaminhado
e já estava tudo resolvido.
Os alunos fecharam a escola, hoje houve um cordão humano, as obras ainda não começaram nem
ninguém sabe como é que as salas de aula do Conservatório podem reabrir.
E temos o tema que motivou este agendamento que o Bloco de Esquerda trouxe, que é o do financiamento
do ensino artístico.
Também aqui o Governo disse, já várias vezes, que o problema está resolvido e eu lembro-vos, Sr.as
e Srs.
Deputados, que há mais de 30 escolas que ainda não receberam o dinheiro, que é seu, que está atrasado e
que continuamos a ter professores com quatro e cinco meses de salários em atraso.
O que o Bloco de Esquerda propõe é tão simples quanto isto: que se dê imediatamente o financiamento
que é devido às escolas de música que fazem parte da escola pública no que diz respeito ao ensino da
música. É preciso pagar, já! O Estado não pode ser caloteiro, não pode ter professores a trabalhar com
salários em atraso.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Em segundo lugar, é preciso que o Estado assuma o problema das
dívidas à segurança social e ao fisco, porque quem não recebeu salário ficou, mesmo assim, com uma
situação de dívida, pois não tinha salário para pagar a dívida! E agora veja-se o absurdo: como há dívidas, não
podem receber o dinheiro do Estado, porque têm de provar que a situação está regularizada. Isto é um ciclo
vicioso que esmaga completamente estes professores e estas escolas.
Portanto, como a dívida é do Estado, o Estado tem de assumir, não pode deixar que esta situação se
prolongue.
Lembro que a este problema se junta o problema dos juros bancários que estas instituições têm, porque,
como o Estado lhes deve dinheiro, tiveram de assumir compromissos com a banca e o atraso do Governo
acaba sempre por dar tanto lucro à banca e desresponsabilizar-se depois, completamente, sobre o que
acontece todos os dias em cada uma destas escolas, com cada um destes professores e professoras e com
estes alunos.
Finalmente, o que é necessário é que se prepare já o próximo ano letivo. Não pode repetir-se a vergonha
deste ano letivo! O ensino artístico tem de funcionar normalmente!
O ensino artístico tem dado uma lição ao País, País levantado e exigente. Cabe a esta Assembleia da
República estar à altura dessa exigência.