28 DE FEVEREIRO DE 2015
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deslocarem e fixarem no interior do País, está a criar condições mais propícias para a maior propagação dos
fogos florestais, designadamente, por um descuido maior e natural do nosso mundo rural. É que dinamizar o
mundo rural, dar-lhe vida humana é também proteger as nossas florestas.
Por último, gostava de referir que não ficámos a saber, Sr. Secretário de Estado e Sr.ª Ministra, qual a
percentagem de bombeiros que ficará mais protegida por via dos equipamentos de proteção individual. O Sr.
Secretário de Estado pode dizer que agora vai haver mais do que houve no passado, mas julgo que a
perspetiva que gostaríamos de ter neste debate era a de como isso se vai materializar na prática, em termos
de proteção real do número de efetivos. Gostaríamos de ter tido essa informação.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que, ainda assim, consideramos
que o debate foi extraordinariamente profícuo e, apesar de tudo, considero lamentável que a Sr.ª Ministra da
Agricultura não tenha dado prioridade a um debate desta natureza.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Estamos a chegar
ao fim deste debate e o Bloco de Esquerda gostaria de abordar os aspetos que considera fundamentais
quando debatemos a problemática dos incêndios florestais.
Todos sabemos que os incêndios florestais são uma realidade preocupante que assola o País e afeta as
populações regularmente.
O futuro não se afigura fácil, sobretudo devido aos efeitos das alterações climáticas, que não podem ser
ignorados numa estratégia de combate aos incêndios florestais.
Face a este cenário, e inclusivamente sabemos bem como ele funciona, se olharmos para o que
aconteceu, em termos de clima, nos anos de 2013 e 2014, rejeitamos que a ocorrência de incêndios florestais
seja encarada como a nova normalidade. É normal, acontece — rejeitamos, em absoluto, esta ideia!
Por isso, o tema exige debate continuado e medidas de fundo, muitas delas sem impacto imediato, mas
fundamentais para o futuro.
São absolutamente necessárias alterações na forma como organizamos a floresta e na forma como se
apagam os fogos e também medidas decisivas relativas às alterações climáticas. É nesse sentido que
queremos, desde já, desafiar o Governo sobre a posição que irá tomar, no final deste ano, em Paris, quando
tiver lugar a Conferência das Partes, no âmbito da Conferência das Nações Unidas para as Alterações
Climáticas em 2015. É necessário trabalhar, e trabalhar desde já, para que desta Conferência saia um acordo
vinculativo com metas e objetivos rigorosos.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Mas também existem situações a nível interno que urge alterar e que têm a
ver diretamente com opções políticas.
O abandono das zonas rurais, Sr. Secretário de Estado da Agricultura, bastante afetadas pela emigração
económica, é outro fator de risco.
Também aqui se sentem os efeitos da austeridade, ela própria, na sua essência e nos seus resultados,
inimiga de um território coeso e capaz de se defender.
Há que apoiar o associativismo florestal, enquanto peça importante para garantir a eficácia da prevenção.
A vegetação combustível na floresta é atualmente um risco que deveria ser transformado numa vantagem,
gerando emprego e criando energia ou matéria-prima.
Portugal é o País da Europa com menos área florestal pública, representando apenas 2% da área total,
quando a média europeia é de 58,65%.
Por outro lado, somos o País europeu com maior área de eucalipto. E não diga que não, Sr. Secretário de
Estado da Agricultura! Mas sabemos bem que o decreto-lei deste Governo que permite a liberalização da
eucaliptização continua em vigor. Para ir à raiz do problema, ser radical de verdade, é preciso dizer que são