I SÉRIE — NÚMERO 63
10
Essa opção, ideologicamente poluída, não veio trazer efeitos perversos na relação dinâmica de
professores, alunos e pais com as aprendizagens e a perceção do essencial?
Não é verdade que o currículo foi desequilibrado e saiu empobrecido? Não é disso exemplo a
sobrevalorização de disciplinas sujeitas a exame, levando ao desinvestimento noutras disciplinas?
A indução de treinamento para os exames não compromete o contacto com aprendizagens imprescindíveis
à evolução do aluno, levando a uma maior desigualdade e segregação?
E que tem a dizer, Sr. Ministro, sobre a amputação e/ou quebra de sequencialidade em disciplinas nas
vertentes das expressões e educação física, da educação técnica e tecnológica, das artes, das tecnologias de
informação e comunicação?
O Sr. Ministro não aceita que foi um erro crasso desprestigiar a área da cidadania, eliminando na prática a
formação cívica?
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Agostinho Santa (PS): — Sabe-se quantas escolas ofereceram uma disciplina ligada à cidadania?
Foi avaliada a eficácia da pretensa transversalidade noutras disciplinas, ou tudo se resumiu à
desresponsabilização total?
A fixação, roçando o fétiche, nos exames foi mesmo ao ponto de a atribuição de horas de crédito para
apoio a alunos ser feita às escolas com melhores notas. Não era fundamental o reforço do apoio nas escolas
com alunos em dificuldade?
O Sr. Ministro sente-se confortável com o uso dos resultados dos exames, sem mais, sem contextualização
que reflita o valor esperado de cada escola? E ele existe, como sabe.
Aceita incorrer na mesmíssima injustiça do tratamento jornalístico do ranking das escolas?
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Odete João.
A Sr.ª Odete João (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Ouvimos
com atenção o Sr. Ministro e não podemos deixar de registar que o Sr. Ministro continua a viver no país das
maravilhas, e esse não é o País real.
Vamos ao aumento da escolaridade obrigatória. Essa foi uma medida do Governo socialista,…
Aplausos do PS.
… mas todos estamos de acordo que essa implementação, esse desígnio deve ser de todos.
Aplausos do PS.
Disse o Sr. Deputado Amadeu Albergaria — vasculhando nas estatísticas — que o número de diplomados
entre os 30 e os 34 anos aumentou. Claro, Sr. Deputado! Mas quando é que eles frequentaram o ensino
superior? Com certeza que não foi nos últimos quatro anos!
Estamos com a avaliação externa, mas constatamos que as retenções aumentaram de uma forma abissal.
Falo agora, Sr.as
e Srs. Deputados, da rutura que esta equipa do Governo fez com a Lei de Bases do
Sistema Educativo (LBSE), o que, aliás, vem na linha do relatório recentemente publicado pelo Parlamento
Europeu.
Os últimos quatro anos foram anos negros para a educação, em Portugal. Falo-vos da destruição da
igualdade de oportunidades, com o encaminhamento de alunos para vias vocacionais ou profissionalizantes
como escolhas de segunda categoria; da degradação da escola inclusiva, com o agravamento das
desigualdades dos alunos com necessidades educativas especiais, não se tendo cuidado da equidade das
respostas para estes alunos; da sobrevalorização de algumas disciplinas em detrimento de outras, o que
agravou a formação global do aluno; do desvirtuamento da matriz curricular do 1.º ciclo — e aqui não é