I SÉRIE — NÚMERO 65
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Não vamos tão longe neste projeto quanto era nossa vontade. Consideramos essencial a participação do
Presidente da República e da Assembleia da República no modelo de designação.
Contudo, diante do bloqueio constitucional invocado pela maioria, propõe-se, desde já, que se consagre o
escrutínio parlamentar do governador indigitado, promovendo a intervenção pluralista dos órgãos de
soberania.
Sabemos estar, assim, a dar uma passo importante para o reforço da confiança dos portugueses nas
instituições.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Paulo Sá, do PCP,
Vera Rodrigues, do CDS-PP, José Luís Ferreira, de Os Verdes, Cristóvão Crespo, do PSD e Pedro Filipe
Soares, do BE.
A Sr.ª Deputada Isabel Santos responderá, em conjunto, a dois e, depois, a três Srs. Deputados.
Tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Isabel Santos, relativamente à CReSAP, são
públicas as profundas dúvidas do PCP relativamente ao papel desempenhado por esta comissão de
recrutamento, atrás da qual continuam a tentar esconder-se nomeações que são, objetivamente, de natureza
política, como, por exemplo, as recentes nomeações para a segurança social que o PCP denunciou.
Mas a questão central no escândalo da lista VIP não é esta, Sr.ª Deputada mas, sim, o direito de todos os
contribuintes, todos sem exceção, terem a proteção dos seus dados fiscais.
E o problema não está nos funcionários da Autoridade Tributária mas, sim, no recurso a empresas privadas
externas que operam no seio desta entidade, sem garantia de proteção dos dados fiscais dos contribuintes.
A criação de uma lista VIP na Autoridade Tributária, Sr.ª Deputada, é algo completamente inaceitável, pois
determinados contribuintes têm direito a uma proteção acrescida dos seus dados fiscais, que não é extensível
à esmagadora maioria dos contribuintes.
Relativamente a este assunto, Sr.ª Deputada, é ainda necessário apurar mais profundamente o papel do
Governo na criação da lista, na definição dos objetivos desta lista e na definição dos nomes que integram esta
lista.
Como sabe, Sr.ª Deputada, o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais negou categoricamente qualquer
intervenção sua e do Governo. Mas também sabemos que o presidente do sindicato dos impostos afirmou que
há pessoas que estão disponíveis para testemunhar, no local próprio, que foi o próprio Secretário de Estado
dos Assuntos Fiscais que esteve na origem desta lista.
Esta é uma questão que, naturalmente, tem de ser apurada. Mas, independentemente deste apuramento,
Sr.ª Deputada, há algo que todos sabemos: é que o País não é governado por diretores-gerais e por
subdiretores-gerais mas, sim, pelos membros do Governo.
As consequências deste caso não podem ficar unicamente pela demissão de chefias da Autoridade
Tributária. O Governo tem de assumir a responsabilidade política pela existência desta lista VIP, e isso exige
que sejam retiradas consequências pelos membros do Governo que tutelam a Autoridade Tributária.
Na audição da passada sexta-feira, o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais «sacudiu a água do
capote» e tentou responsabilizar unicamente as chefias da Autoridade Tributária pelo sucedido. O Secretário
de Estado recusou-se a assumir qualquer responsabilidade política pela existência da lista VIP. E a Ministra
das Finanças, como sabemos, remeteu-se ao silêncio, a um silêncio ensurdecedor.
Sr.ª Deputada, o que queria perguntar-lhe é como caracteriza esta atitude do Governo e, em particular, dos
membros do Governo que tutelam a Autoridade Tributária, recusando-se a assumir a responsabilidade política
que objetivamente é sua.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Miranda Calha.
O Sr. Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.