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I SÉRIE — NÚMERO 78

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Agregado em Física, desde 1979, no Instituto Superior Técnico, onde se tornaria a breve trecho

catedrático, Mariano Gago marcaria doravante o panorama científico nacional, quer enquanto investigador,

quer nos diversos e multifacetados papéis que foi desempenhando no setor: foi presidente da Junta Nacional

de Investigação Científica e Tecnológica (que antecedeu a atual FCT), entre 1986 e 1989, foi fundador e

presidente do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, em Lisboa, dinamizou, em

1987, as primeiras Jornadas Nacionais de Investigação Científica e viria a assumir funções governativas entre

1995 e 2002, nos XIII e XIV Governos Constitucionais, como Ministro da Ciência e Tecnologia, e, entre 2005 e

2011, nos XVII e XVIII Governos Constitucionais, como Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

No plano europeu e internacional, seja mais uma vez enquanto investigador ou enquanto impulsionador de

políticas públicas da ciência, Mariano Gago deixou uma marca clara por onde passou, granjeando o respeito

da comunidade científica e dos seus interlocutores, mesmo quando consigo mantinham divergências de

opinião ou de abordagem.

A sua visão integrada e impulsionadora do setor científico nacional tornou-o numa referência política

incontornável para o setor e permitiu modificar profundamente as políticas públicas portuguesas, dotando a

ciência de uma nova centralidade política, criando mecanismos de financiamento reforçado e de

desenvolvimento da investigação científica e impulsionando de forma notável a produção científica nacional.

Carlos Fiolhais, em artigo publicado por ocasião do seu falecimento, traduzia de forma simples o que

representou para o setor, reconhecendo que, em Portugal, pode e deve distinguir-se, no campo da ciência, um

antes e um depois de Mariano Gago.

Paralelamente à capacitação do setor, Mariano Gago foi igualmente responsável pelo desenvolvimento dos

alicerces de uma verdadeira política de divulgação científica, vertida emblematicamente no lançamento da

Ciência Viva — Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, mobilizadora das novas gerações

para o conhecimento e a investigação através de uma rede integrada de centros espalhados pelo País,

coroada com o desenvolvimento do Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.

O seu percurso científico e político foi por diversas vezes reconhecidos e agraciado, nomeadamente como

Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, em 1992, e ainda com a Grã-Cruz da Ordem de Rio

Branco, do Brasil, em 1999, a Grã-Cruz da Ordem de Isabel a Católica, de Espanha, em 2007, ou com a Grã-

Cruz com Estrela da Ordem do Mérito, da Alemanha, em 2009.

Porém, mais do que o reconhecimento institucional e protocolar, o papel de Mariano Gago na história da

ciência em Portugal e o agradecimento genuíno de milhares de investigadores e docentes do ensino superior

traduziu-se da forma mais simples e sentida através da homenagem que investigadores por todo o País lhe

prestaram simbolicamente, às 12 horas do dia 20 de abril, concentrando-se em silêncio no exterior das

respetivas instituições.

Os testemunhos de colegas nacionais e estrangeiros que continuam hoje mesmo a ser deixados no sítio da

Internet nascido de um movimento espontâneo da comunidade científica em Portugal são testemunhos

adicionais da dimensão do cidadão, cientista e responsável político inovador, que nunca se resignou com a

ideia de que Portugal estaria destinado a ser um País científica e tecnologicamente atrasado em relação aos

seus parceiros.

Assim, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, presta o sentido reconhecimento e

expressa a gratidão pelo contributo académico e serviço cívico e público de José Mariano Gago ao longo de

toda a sua vida, endereçando à sua família, amigos e a todos os que no setor científico sentem especialmente

a dimensão da sua perda, as suas sinceras condolências pelo desaparecimento de um vulto maior da ciência

em Portugal.»

O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, vamos votar.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, peço a todos que guardemos 1 minuto de silêncio.

A Câmara guardou, de pé, 1 minuto de silêncio.