I SÉRIE — NÚMERO 82
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Dias Loureiro é parte do que enterra Portugal e o seu elogio a Dias Loureiro insulta o País, é parte da sua
forma de ver o País, como um pote, um pote que está sob assalto, um pote em que há um grupo que é
completamente impune e pode fazer o quer.
Bem sei que o processo está parado há seis anos, no Departamento Central de Investigação e Ação Penal,
mas isso só quer dizer que o tempo da impunidade não acabou, só quer dizer que temos um problema grave
de justiça e as suas palavras hoje, aqui, reiterando que apoia exemplos como o de Dias Loureiro, só dizem
mais sobre o Sr. Primeiro-Ministro e a forma como protege a economia, um grupo de privilegiados que usou, e
usa, o Estado em proveito próprio e depois deixou um buraco gigantesco para pagarmos.
O Sr. Primeiro-Ministro ainda tem tempo para responder e há uma pergunta que lhe quero fazer: qual é a
pressa?
A poucos meses do final do seu mandato, o Sr. Primeiro-Ministro quer privatizar o Oceanário, que dá um
milhão de euros de lucro, quer concessionar a privados os transportes coletivos de Lisboa e do Porto,
passando até por cima das competências particulares das autarquias e autoridades metropolitanas, e quer
privatizar a TAP.
Sr. Primeiro-Ministro, para nos entendermos, devo dizer que aqui, no Bloco de Esquerda, ninguém defende
uma greve de quem quer comprar uma parte da TAP. Consideramos que a TAP deve ser pública e é esse o
nosso compromisso.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Mas, Sr. Primeiro-Ministro, quer também vender as águas e os resíduos e
hoje mesmo o Governo publicou o decreto para privatizar até 100% a CP Carga e a EMEF.
Sr. Primeiro-Ministro, qual é a pressa? Qual é a pressa de vender o País todo a poucos meses do fim do
seu mandato?! Num Primeiro-Ministro que faz tantos elogios a Dias Loureiro esta pressa ainda assusta mais.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Dou de novo a palavra ao Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, a Sr.ª Deputada Catarina Martins recorre com alguma
frequência a um processo de intenções, não sei se julgando que o Primeiro-Ministro reage de acordo com o
que, em circunstâncias normais, as pessoas reagem, mas, na verdade, Sr.ª Deputada, daqui não levará
prémios desses.
A Sr.ª Deputada pode fazer as insinuações que quiser. Reafirmo perante este Parlamento que o Governo
não interfere na justiça, e se a Sr.ª Deputada, porventura, tem alguma evidência em contrário, agradecia que o
pudesse dizer publicamente.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não existe nenhuma intervenção do Governo nos processos da justiça
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
E isso, Sr.ª Deputada, é hoje reconhecido mesmo por pessoas que, no espaço público, defendem
estratégias e políticas diferentes daquelas que eu defendo.
Se há coisa que pode ser verificável é que, nestes quatro anos de Governo, quer o DCIAP, quer o
Ministério Público, quer a Polícia Judiciária investigaram o que quiseram, como quiseram e não «passaram
cartão» ao Governo, como não têm de passar. Foi sempre assim, Sr.ª Deputada. Portanto, não é com
insinuações como as que a Sr.ª Deputada faz que se apagam quatro anos de total liberdade para que os
poderes, em matéria de investigação penal, estejam preservados de qualquer influência política ou partidária.
O Sr. Pedro Lynce (PSD): — Muito bem!