I SÉRIE — NÚMERO 82
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O Sr. Primeiro-Ministro cruzou-se com Dias Loureiro em Aguiar da Beira e
julgávamos que talvez fosse falar da necessidade de investimento no interior. Mas não, decidiu cumprimentar
o seu amigo — e, quanto a isso, não tenho nada, amigos terá os seus e eu terei os meus, ninguém tem nada a
ver com a sua vida pessoal — e dizer publicamente que aí estava o exemplo de um empresário bem sucedido,
«uma pessoa que sabe que, se queremos vencer na vida, chegar longe, ter uma economia desenvolvida e
pujante, temos de ser exigentes e metódicos». E o Sr. Primeiro-Ministro continuou entusiasmado: «Um
empresário que viu muitas coisas por este mundo fora, prova de que os ricos não são ricos a esbanjar dinheiro
e de que vale a pena olhar bem para as coisas e, em vez de facilidades, acrescentar exigências».
Sr. Primeiro-Ministro, vamos, então, olhar bem para as coisas. Ora, quando olhamos bem para Dias
Loureiro, Sr. Primeiro-Ministro, o mais difícil é encontrar a exigência, pois facilidades é fácil. Veio de um
Conselho de Ministros de Cavaco Silva para o BPN, o banco laranja, aquele em que o conselho de
administração parecia também um Conselho de Ministros cavaquista, para fazer negócios, utilizando o lobby
do poder político. Dias Loureiro é referido 55 vezes no relatório da Comissão de Inquérito e é um dos únicos
dois nomes que aparece nas conclusões precisamente por causa dessas facilidades.
Talvez o Sr. Primeiro-Ministro não se lembre, mas o relatório da Comissão de Inquérito diz o seguinte: «O
Grupo desenvolveu-se rapidamente, mercê da colaboração objetiva de várias pessoas influentes, em virtude
do exercício de altos cargos públicos, designadamente o Dr. Dias Loureiro e o próprio Dr. Oliveira e Costa,
bem como alguns acionistas».
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Belo exemplo!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Facilitismo é isto. Exigência não vemos. Método vemos, porque sabemos
que, em 2009, quando o Estado tentou penhorar Dias Loureiro por causa do buraco do BPN, Dias Loureiro
não tinha nenhum bem em seu nome, estavam todos em nome de familiares. Um homem que não tinha nada,
mas, veja lá, que é tão metódico que até conseguiu, alguns anos depois, comprar parte da editora que acabou
de editar o seu livro, Sr. Primeiro-Ministro, em que o senhor aproveita para se queixar dos sms de Paulo
Portas e enxovalhar o CDS. Por isso, método em Dias Loureiro, vemos; exigência, não vemos, Sr. Primeiro-
Ministro.
«Viu muitas coisas por esse mundo fora»? É capaz: negócios ruinosos em Porto Rico ou em Marrocos;
dinheiro escondido em paraísos fiscais. E o povo, e o País a pagar.
«Não esbanjou o seu dinheiro»? Talvez não. Sabe porquê? Porque esbanjou todo o nosso dinheiro!
Aplausos do BE.
Há 4691 milhões de razões para os portugueses se sentirem insultados, portugueses que estão a pagar
mais impostos do que nunca, que veem a saúde, a educação e a cultura cortadas, que se veem sem emprego,
sem salário, sem pensão que chegue ao fim do mês.
Sr. Primeiro-Ministro, talvez deva uma explicação a este País sobre os modelos que decide utilizar, quando
fala da economia portuguesa.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, tem a palavra.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, creio que a Sr.ª Deputada fez
uma opção por usar uma parte importante deste debate para fazer aquilo a que eu chamaria uma espécie de
intriga política.
Mas deixe-me dizer-lhe, em primeiro lugar, que nunca na minha vida enxovalhei ninguém, muito menos o
líder do principal partido da oposição. Está muito equivocada, Sr.ª Deputada.
E está muito equivocada também quanto à forma como, dentro do Governo e da nossa maioria, sabemos
superar as nossas dificuldades.