14 DE MAIO DE 2015
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beneficiários desta medida, para poder, de forma automática, fazer com que esses utentes possam auferir
dessa tarifa.
Pretendemos ainda que a própria Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos diligencie junto das
empresas para que haja uma ampla campanha informativa. Como as próprias associações dos consumidores
também já disseram, essa campanha não existe, o Governo não faz o que lhe compete, não faz aquilo que
anda a dizer em termos de propaganda, muito pelo contrário, está até a permitir que esta situação permaneça.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção de apresentação do projeto de resolução do
Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Enfrentamos um problema social
gravíssimo em Portugal, que é o de 300 000 clientes com cortes no seu fornecimento de luz. Os cortes por
pagamento de contas em atraso, em prestações, subiram 25%. A DECO diz que há mais 15% de famílias que
não conseguem pagar a sua conta da luz e mais 30% de famílias que não pagam a sua conta do gás.
É um drama social quando temos famílias, em Portugal, que não podem ter luz nem aquecimento nas suas
casas, o que se reflete num outro indicador surpreendente, que saiu há pouco tempo, que dá nota da
mortalidade sazonal e de como Portugal está no topo da lista dos países com maior mortalidade sazonal,
indicadores estes que mostram ainda que um quinto da mortalidade sazonal se deve a más condições
habitacionais.
Ora, isto diz respeito a falta de isolamento e de capacidade para aquecimento, porque também não há
apoios nesse sentido ou não são suficientes, mas também diz respeito a um conjunto de pessoas que, de
facto, não têm dinheiro para ter aquecimento ligado, nem a gás, nem a eletricidade. Este é um problema
gravíssimo que temos de resolver, em Portugal.
Este problema tem diversas causas, mas a baixa de rendimento, a pobreza, os baixos salários contribuíram
para isso: famílias onde um ou mais membros do agregado familiar estão desempregados, estão a viver com
os avós, em casas com má qualidade, enfim, toda esta política de empobrecimento contribui também para a
pobreza energética.
Por outro lado, os preços estão mais elevados. A eletricidade, em Portugal, é muito cara, ou melhor, a
eletricidade e o gás estão nos níveis mais altos da Europa e isto deve-se às rendas administrativas que as
elétricas têm, decididas por lei, ao longo de vários governos, mas deve-se também, ao IVA. Não se percebe
como é que, em Portugal, a eletricidade paga o mesmo IVA que um produto de luxo, quando é um bem
essencial à sobrevivência, ao aquecimento, ao mínimo de qualidade de vida.
Mas isto também tem a ver com uma tarifa social que não chega até onde deveria chegar, e não chega por
falta de informação, porque os critérios não são os adequados e por má vontade das empresas, que não a
deixam chegar. Temos denúncias várias — e isto já foi confirmado pela ERSE quando cá esteve e que
tivemos oportunidade de confrontar — de que as empresas dificultam este processo. A EDP está a dificultar o
acesso à tarifa social.
Nesse sentido, o Bloco de Esquerda apresenta aqui cinco recomendações que achamos que podem
contribuir para resolver este problema.
Em primeiro lugar, achamos que não deve ser permitida a suspensão do fornecimento de eletricidade e gás
por falta de pagamento a pessoas que estão no limiar de pobreza. Uma pessoa não deve deixar de ter acesso
a luz só porque é pobre e não tem dinheiro para pagar, porque a luz é um serviço mínimo.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Uma pessoa não pode ter alimentos em casa a apodrecer por não ter
luz para ter um frigorífico; não pode deixar de ter luz para os filhos estudarem ou para ter um mínimo de
condições para as tarefas domésticas. Trata-se de um mínimo de direitos humanos. Ninguém pode ter a
eletricidade ou o gás cortados, ninguém pode deixar de ter direito a tomar um banho quente porque é pobre e
não consegue pagar as contas da luz. Parece-nos que é uma proposta muito sensata.