16 DE MAIO DE 2015
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porque a Sr.ª Ministra foi muito crítica, e bem, em 2006, aquando da aprovação nesta Assembleia da
República, por proposta do Governo do Partido Socialista, de uma lei-quadro da política criminal. E foi muito
crítica com boas razões, e nós também o fomos, considerando que esta lei era não só desnecessária como
uma lei inadequada para o nosso ordenamento jurídico, tendo em conta o Estatuto do Ministério Público.
Portanto, sempre considerámos que estávamos perante um propósito de governamentalização da política
criminal, que era incorreta.
Ora bem, na altura a Sr.ª Ministra concordava connosco neste ponto e, aliás, foi muito contundente, como
há pouco a Sr.ª Deputada Cecília Honório teve oportunidade de citar. Mas o que acontece é que agora o
Governo vem apresentar uma proposta, quando o deveria ter feito, nos termos da lei, em 2011 para 2013.
Em 2011 para 2013 não o fez, em 2013 para 2015 também não o fez e agora vem apresentar uma
proposta que, digamos, é uma disposição testamentária para os vindouros, porque o Governo não quis definir
as suas prioridades mas agora quer definir as prioridades para o governo que há de vir.
A Sr.ª Ministra dir-me-á: «Bom, eu não estava de acordo com a lei, mas a lei é a lei, dura lex, sed lex, e eu
tinha que a cumprir». Mas então não o fez. Ou seja, a Sr.ª Ministra não a cumpriu de 2011 para 2013, não a
cumpriu de 2013 para 2015 e lembrou-se agora que tinha de cumprir a lei.
Portanto, a primeira questão é a de saber porquê, por que é que o Governo, que tinha a incumbência legal,
não o fez, ou, então, o Governo estava no seu legítimo direito de propor a revogação da Lei-Quadro da
Investigação Criminal, dizendo que não estava de acordo com ela, que não queria esta lei e que propunha a
sua revogação.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Que era o melhor!
O Sr. António Filipe (PCP): — Não o fez e, então, ao não o fazer, cometeu a incoerência total, que foi não
a ter cumprido durante quatro anos e agora dizer: «Bem, nós não a cumprimos, mas os que hão de vir hão de
ter a incumbência de o fazer» e apresenta agora a proposta de lei.
A pergunta é esta: porquê, Sr.ª Ministra?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra da Justiça, eu iria fazer-lhe uma pergunta
mais genérica mas vou deixá-la para um momento posterior e vou mais diretamente a esta questão que tem
estado a ser aqui lançada, nesta fase inicial dos nossos trabalhos, um pouco, aliás, com a sensação que a
crítica existiria sempre, ou seja, se a Sr.ª Ministra apresenta é porque apresenta, se não apresenta é porque
não apresentado, o que, de resto, é uma forma habitual de fazer alguma oposição.
Acho que a questão das prioridades é uma questão relevante porque é uma responsabilização da política
por esta mesma matéria. Não podemos ter nenhum tipo de responsabilização política se não tivermos, ao
mesmo tempo, os instrumentos de ação e de análise política sobre esta mesma questão, que são planos
completamente diferentes e que, em minha opinião, em nada chocam com o princípio da separação de
poderes, porque uma coisa é a política — à política o que é da política — e as linhas gerais traçadas, outra
coisa é a atuação concreta, os métodos de atuação, os critérios de investigação, que cabem, obviamente, no
princípio da separação de poderes.
Portanto, Sr.ª Ministra, parece-me que essa confusão deve ser absolutamente deslindada.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Por outro lado, a questão dos vindouros é uma questão que, em minha
opinião, também não se põe, porque se estamos precisamente a falar de uma área que deve ser estrutural e
em que o princípio da continuidade do Estado deve ser um princípio absoluto, ou seja, a análise da
criminalidade, a análise do combate à criminalidade, a análise das prioridades do combate à criminalidade,