I SÉRIE — NÚMERO 90
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Disse que a venda à Swissair era o único caminho para salvar a
TAP e mantê-la a operar.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Foi o que se viu!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Passaram quase duas décadas, a Swissair já não existe e a
Sabena, vendida, então, à Swissair, também já não existe.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Essa é que é essa!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Ora, face a este quadro, estes últimos 18 anos deviam ser
suficientes para o Governo perceber a dimensão do erro que se prepara para cometer com a privatização da
TAP. E se o Governo se mostra incapaz de perceber o erro, de duas, uma, ou há interesses nesta privatização
que os portugueses não conseguem vislumbrar e que o Governo se mostra incapaz de dar a conhecer, ou
então esta incapacidade resulta da cegueira neoliberal do Governo PSD/CDS-PP que o inibe de perceber a
dimensão do erro que a privatização da TAP representa para Portugal e para os portugueses.
O Governo ainda está a tempo de abandonar o seu objetivo de entregar a TAP aos privados e mostrar,
dessa forma, algum empenho na afirmação e na defesa do interesse público e até na defesa da soberania
nacional. O propósito da iniciativa legislativa que Os Verdes apresentam hoje é que o Governo proceda, de
imediato, à anulação do processo de privatização da TAP e garanta, assim, a defesa do interesse público e a
defesa da soberania nacional.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana
Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Quando, há uns dias, quisemos
introduzir no relatório da Comissão de Inquérito ao BES uma referência à pressa com que vendiam o Novo
Banco, impediram-nos de introduzir essa referência porque ela desvalorizava o valor do Novo Banco quando
fosse vendido.
Por isso, só podemos ficar perplexos quando vemos a multiplicação de declarações do Sr. Ministro da
Economia ou do Sr. Secretário de Estado da Economia a falar da degradada situação financeira da TAP, da
pressa que têm em vender a TAP e da inexistência, sequer, de um valor mínimo para a venda da TAP.
Independentemente da opinião que temos sobre se a TAP deve ser pública ou privada, não podemos
aceitar declarações de membros do Governo que põem os seus interesses, as suas opções político-partidárias
à frente do interesse público e à frente do valor desta empresa pública essencial. Isso é inaceitável e é o
primeiro ponto que queremos trazer a debate.
Mas não é apenas nas declarações que vemos esta pressa irresponsável do Governo, é também no
método de venda. Como é que podemos aceitar que uma das melhores e maiores empresas portuguesas seja
vendida e a TAP tenha três dias úteis para analisar propostas que são, por si, altamente complexas, num setor
muito complexo, ele próprio, na sua regulação? Como é que podemos aceitar que depois de três dias úteis a
Parpública tenha cinco dias úteis para avaliar estas propostas altamente complexas e com um elevado caráter
técnico? E como é que podemos ter garantias de que isso defende o interesse público e o interesse da TAP?
Não podemos!
Por isso, Srs. Deputados, não confiamos. Não confiamos neste Governo, não confiamos no Secretário de
Estado, não confiamos no Ministro da Economia para conduzir o processo da TAP, independentemente de ela
ser pública ou privada e da nossa opinião sobre isso, questão a que iremos agora.