I SÉRIE — NÚMERO 91
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A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos à Sr.ª Ministra, os Srs. Deputados João
Oliveira, do PCP, Mariana Aiveca, do Bloco de Esquerda, e José Luís Ferreira, de Os Verdes.
A Sr.ª Ministra informou a Mesa que responderá, em conjunto, aos pedidos de esclarecimento.
Tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra das Finanças, julgo que, por muitas tentativas
que a Sr.ª Ministra faça, não há nenhum português que não duvide daquela que é verdadeiramente a intenção
do Governo em relação às pensões.
Não chegavam já quatro anos de cortes nas pensões, Sr.ª Ministra, como também estamos ainda todos
lembrados daquilo que significava o projeto de convergência das pensões, apresentado por este Governo,
para cortar pensões com a intenção de perpetuar os cortes.
E também estamos todos lembrados daquilo que o Governo escreveu na página 39 do Programa de
Estabilidade, relativamente ao corte dos 600 milhões de euros. E não venha dizer, Sr.ª Ministra, que a
preocupação era com as receitas, porque o que aí se diz não deixa clara essa intenção. Deixa, sim, em aberto
a possibilidade de se cortar nas pensões. Mais, ao longo de todo o Programa de Estabilidade, essa perspetiva
de redução do montante com as pensões continua colocada.
Portanto, Sr.ª Ministra, relativamente às intenções do Governo, por muito que os senhores agora tentem
desfazer a ideia que já criaram, está claro qual é a intenção do Governo.
Quero ainda dizer-lhe o seguinte: compreendemos bem que tentem encontrar no Partido Socialista um
aliado para esse fim. A aplicação do fator de sustentabilidade para aumentar a idade da reforma e a aplicação
da condição de recursos para cortar prestações sociais foi o desenvolvimento que este Governo do PSD e do
CDS deu a medidas aprovadas pelo anterior, em vez de as contrariarem e de as reverterem. Portanto,
percebemos que os senhores queiram fazer essa aliança.
Mas, Sr.ª Ministra das Finanças, quero dizer-lhe uma coisa com muita clareza: com o PCP, os senhores
não contam, nem para cortar pensões,…
Protestos do PSD.
… nem para condicionar a discussão sobre a sustentabilidade da segurança social aos cortes.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Percebemos que o Governo queira fazer a discussão da sustentabilidade da
segurança social debaixo da ameaça de cortes nas pensões e de cortes nas prestações sociais.
Compreendemos que o Governo queira fazer a discussão desta forma.
Mas nós recusamos fazer a discussão nestes termos. Nós queremos discutir a segurança social em função
de objetivos de política de proteção social, de objetivos de combate à pobreza, de apoio aos desempregados,
de apoio àqueles que precisam de proteção social em situação de doença, de valorização das condições de
vida dos pensionistas.
Por isso, Sr.ª Ministra, a questão muito concreta que queria colocar-lhe é a seguinte: que medidas de
aumento da receita da segurança social é que os senhores consideraram antes de fazerem contas aos cortes?
Que medidas, por exemplo, de recuperação da dívida à segurança social, que os senhores permitiram que
aumentasse em quase 4000 milhões de euros, é que os senhores consideraram antes de considerarem os
cortes?
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Boa pergunta!
O Sr. João Oliveira (PCP): — A Sr.ª Ministra das Finanças, por acaso, fez contas ao que significava uma
política económica de combate ao desemprego no aumento das receitas da segurança social?
A Sr.ª Ministra já se deu conta de que, se os senhores aplicassem políticas económicas de criação de
emprego e se a taxa de desemprego se reduzisse para metade, o impacto disso na segurança social era de
mais de 1500 milhões de euros de aumento da receita?