29 DE MAIO DE 2015
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A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado, guardámo-nos para ouvir a sua
intervenção para, depois, lhe fazermos algumas perguntas. Curiosamente, não deixou tempo para resposta,
por isso aqui fica a intervenção.
O senhor veio falar-nos de uma realidade real na Administração Pública e veio dizer-nos que este problema
da precariedade teria de ter uma visão sincrética. E depois, com esta introdução, pensávamos nós que iria,
com certeza, apresentar-nos uma série de dados, especialmente do último ano — até referiu o debate do ano
passado —, dados da realidade real. Mas, durante toda a sua intervenção, deve ter-nos escapado qualquer
coisa, pois o facto é que não conseguimos apanhar absolutamente nada.
O senhor disse-nos: «A contratação a termo tem uma ligeira redução». Referiu uma ligeira redução mas
não nos disse qual é a realidade real da contratação a termo na Administração Pública.
Relativamente aos contratos emprego-inserção, disse que a realidade é que «há um período de vigência
relativamente largo» e «não vou elaborar sobre ela». Realidade real? Não percebemos nada do que nos quis
dizer.
Disse que os contratos emprego-inserção têm uma expressão maior na administração local, mas também
não nos disse qual é a realidade real da Administração Pública. Sr. Secretário de Estado, não sabe?!
Depois falou-nos nos estágios. Sr. Secretário de Estado, há uma perversão imensa no que aos estágios diz
respeito, aliás, já denunciada nas intervenções desta nossa interpelação. É que a figura do estágio tinha muito
a ver com a ligação primeira, a porta de entrada para o mercado de trabalho, mas se o senhor quiser ir à
realidade real, verá que há, efetivamente, muitos estágios de pessoas que já tiveram emprego, que já tiveram
contrato. Portanto, o estágio não está a cumprir a sua missão.
Mais: disse-nos aqui o Sr. Ministro uma coisa que não é verdade, que um em cada dois estágios tem
contrato sem termo. É falso. O que se passa é que as empresas, nas candidaturas a estágio, têm de
preencher uma declaração dizendo que em cada três estagiários ficarão com um. É o que diz a lei. E o que
pergunto é que dados têm os senhores da efetivação deste preceito legal. Nenhum! Realidade real não nos
trouxe.
Portanto, Sr. Secretário de Estado, a sua intervenção é, de facto, espantosa. É que sobre precariedade na
Administração Pública não nos quer dizer nada.
Os contratos emprego-inserção, que nos disse que têm maior expressão na administração local, têm
expressão em todo o lado. Se o senhor for à realidade real dos serviços públicos verifica que muitos
trabalhadores que estão em atendimento em guichets, que são a cara primeira de qualquer serviço público,
estão com contratos emprego-inserção. Se for a muitas das IPSS, no setor da saúde, da educação e em todos
os setores, estão lá trabalhadores com contratos emprego-inserção. A fazer o quê? Trabalho por turnos.
Não é possível! A filosofia destes contratos é no sentido do emprego-inserção, não é para ocupar postos de
trabalho permanente e os senhores estão a usar esta exploração e a degradar, na Administração Pública, a
qualidade do serviço público, porque nenhum contratado de emprego-inserção, a quem não é dada nenhuma
perspetiva de futuro, que sabe que só está ali 12 meses, fica com qualquer ligação ao serviço para prestar um
serviço público de qualidade.
Os senhores estão a destruir os serviços públicos em duas vertentes: na qualidade dos serviços e na
qualidade do emprego.
Portanto, Sr. Secretário de Estado da Administração Pública, se diz que este problema da precariedade
deve ter uma visão sincrética, quero dizer-lhe que o seu discurso foi um discurso que não falou da realidade
real, não nos deu dados, porque não quer ou porque não sabe, e, de facto, tem uma visão destruidora daquilo
que deve ser o mercado de trabalho e daquilo que deve ser o trabalho com direitos, tem uma visão destruidora
do futuro do País e de um trabalho que deve ter dignidade.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Srs. Deputados, estão esgotadas as inscrições na fase do debate.
Vamos passar ao encerramento, que consta de duas intervenções, uma do Bloco de Esquerda e outra do
Governo.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.