30 DE MAIO DE 2015
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O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Apresentámos ainda, numa iniciativa inédita na Assembleia da República,
propostas com vista à extinção dos paraísos fiscais e dos chamados offshore, assim como de medidas
imediatas de proibição e controlo de relações comerciais e profissionais com entidades sedeadas em paraísos
fiscais ou jurisdições não cooperantes, propostas essas que aguardam discussão, na especialidade, em sede
de Comissão.
Propusemos também medidas para travar a venda de ativos do BES e do GES, como a Tranquilidade ou a
Espírito Santo Saúde.
Trazemos hoje a este debate mais três iniciativas que visam dois objetivos essenciais: colocar o sistema
financeiro ao serviço do País e garantir que não sejam os portugueses a pagar os buracos dos bancos e os
desmandos dos banqueiros.
Propomos o controlo público da banca, através dos meios que se revelem necessários, assegurando a
colocação do crédito ao serviço da economia e do interesse coletivo, impondo a sua utilização em benefício
dos interesses do grande capital financeiro.
Continuar a atuar apenas sobre a superfície do problema, ou seja, continuar a querer dizer aos
portugueses que podem confiar na banca privada porque agora é que é, agora é que a supervisão vai ser boa
e mais forte, é, além de um embuste, um risco e um luxo ao qual os portugueses não se podem, nem querem,
dar. Viver acima das nossas possibilidades não é ter serviços públicos e direitos, não é ter escolas e hospitais,
é pagar pelas aventuras e crimes dos banqueiros que, desde 2009, já consumiram cerca de 15 mil milhões de
euros de recursos públicos.
Aplausos do PCP.
O que ganham os portugueses com a banca privada? Nada! Mas têm tudo a perder.
O que perdem os portugueses com o controlo público da banca? Nada! Mas têm tudo a ganhar.
Os custos que o Estado assume com intervenções no sistema financeiro — financiamento da supervisão,
despesas fiscais, perda de influência na política de crédito — não são compensados de forma alguma por
algum benefício que possa trazer a banca privada. A banca privada representa, na verdade, um custo brutal
para os portugueses e para a economia, agravado pelo facto de estar constantemente a sofrer perdas geradas
pela gestão verdadeiramente criminosa que muitos banqueiros fazem em seu favor.
Se é verdade que o controlo público da banca, por si só, não determina o papel que os bancos
desempenham, nem as suas opções de gestão, é igualmente verdade que só com esse controlo público se
poderão dar os passos necessários para que os bancos, a banca comercial, esteja de facto ao serviço do povo
e do País.
Aplausos do PCP.
A rutura com a política de direita, a construção de uma política que afirme a soberania nacional, que
assente na valorização de direitos e dos serviços públicos, do trabalho e da produção, implica o controlo
público das alavancas fundamentais da economia. A juntar a essa implicação, acresce o facto de só o controlo
público permitir que sejam criadas as condições para que a banca e o sistema financeiro não dependam do
carácter dos banqueiros, que, como se tem visto, não dá grandes garantias. E enquanto que as opções de
gestão pública e a democracia podem determinar o rumo da banca pública, não se pode decretar a bondade
de um banqueiro.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Propomos ainda a imobilização e congelamento de ativos do GES e do BES
para fazer face aos passivos e compromissos que resultem do balanço atual, reconstituindo a configuração do
grupo à data das medidas de blindagem determinadas pelo Banco de Portugal e a reversão das alienações da
Tranquilidade, do BESI e da Espírito Santo Saúde, nomeadamente.
Por fim, propomos a alteração do modelo de auditoria externa, tornando-o misto, ou seja, deixando de estar
exclusivamente nas mãos de empresas privadas de auditoria, que são pagas pelos bancos, prevendo a