30 DE MAIO DE 2015
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A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Gostaríamos, porventura, de legislar para outros sítios, mas
legislamos para Portugal.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Protestos do PCP.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Tem a palavra a Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças, para
responder.
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — Sr. Presidente, Srs. Deputados, relativamente às questões
colocadas, queria reiterar, em relação à matéria do Banco de Portugal e das conclusões sobre a supervisão da
própria Comissão de Inquérito, que o resultado final da intervenção foi que se preservou a estabilidade
financeira, se salvaguardaram os interesses dos contribuintes e dos depositantes. Quando fazemos uma
avaliação global, devemos também ter em conta qual foi o resultado dessa atuação e quais foram os
interesses maiores em presença que foi possível preservar, fazendo essa avaliação no seu conjunto.
Quanto às questões colocadas sobre a matéria das alterações propostas ao Código das Sociedades
Comerciais, Srs. Deputados, falando em números, até agora só eram obrigadas a supervisão por ROC as
sociedades anónimas que tinham um balanço superior a 100 milhões de euros, e passam a ser todas as que
tenham um balanço superior a 20 milhões. No caso das que tinham um volume de negócios de 150 milhões,
passam a ser as que tenham um volume de negócios superior a 40 milhões.
Atendendo a que as sociedades anónimas são, de facto, as que se revestem de maior complexidade, faz
todo o sentido que a maior exigência em matéria de auditoria seja colocada sobre aquelas entidades onde há
um maior risco de atuação que não seja correta e que possa ter consequências.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Porquê?
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — E é esse balanço que se propõe, ao fazer este ajustamento
que aumenta muito significativamente com os valores que aqui referi — passam de 100 para 20 e de 150 para
40 milhões de euros os níveis de exigência —, aumentando a exigência de ROC para as sociedades
comerciais.
Um tema importante, que também foi aqui abordado pelo Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira, tem a ver com
a governance. É verdade, Sr. Deputado, e é uma matéria que, não sendo o objeto das iniciativas legislativas
que hoje aqui estão em discussão — e não estando eu a sugerir que devam ser necessariamente iniciativas
legislativas —, é fundamental que se perceba qual é a responsabilidade que efetivamente cabe a quem está
nas empresas.
Aliás, aludi a isso na minha intervenção inicial, dizendo que é obrigação e do interesse de todos trabalhar
para preservar a estabilidade financeira, o que significa que não nos podemos limitar a ter modelos de
governance que no papel até merecem prémios para depois verificar que, na sua aplicação prática, não há
respeito por essas competências e há demasiadas pessoas com lugares não executivos que não encaram
esses lugares com a responsabilidade que deveriam encarar.
Portanto, há aqui um problema de discussão pública, que deve ser feita — e no Parlamento também —,
sobre a forma como podemos mudar esta cultura das nossas empresas para garantir que, efetivamente, para
lá da legislação, há uma cultura de exigência, de responsabilidade de quem está dentro das empresas. Não é
só alterar a lei e obrigar a que formalmente a lei seja cumprida, é garantir que promovemos uma mudança de
cultura para que as responsabilidades sejam partilhadas por todos, em vez de estarmos eternamente no papel
do polícia que tem de apanhar o ladrão. Esse papel é fundamental, mas importa disciplinar muito a atuação
das entidades, dos órgãos de controlo interno, relativamente aos pesos que os executivos e não executivos
devem ter e tirar modelos que apenas são muito bons no papel para os colocar, efetivamente, na prática das
empresas.