4 DE JUNHO DE 2015
15
Refiro ainda a área da informação, prevendo a realização de um estudo de avaliação e segmentação do
desperdício alimentar em Portugal. Esta informação irá permitir que todos os decisores tenham um
conhecimento mais detalhado da realidade, como, aliás, o Partido Ecologista «Os Verdes» hoje defendeu, e
bem, definindo, assim, linhas de ação para a sua prevenção, aproximando o desperdício da reutilização, o que
constituirá um passo determinante no estabelecimento de uma plataforma nacional de conhecimento sobre o
desperdício alimentar.
Importa também dizer que este não é um plano do Governo, não é um plano da Sr.ª Ministra ou do Sr.
Secretário de Estado. Este é um plano do País, porque foi feito com a sociedade civil, foi feito com as
associações representativas do sector, foi feito com quem sabe e para quem precisa.
Gostaria igualmente de dizer que este é um plano factual, interventivo e permitam-me que sublinhe mais
uma vez, porque me parece ser de especial relevância, o carácter formativo e educativo deste Plano.
Uma nota ainda, porque nos parece de especial relevância, para referenciar as autarquias e os outros
agentes que têm realizado planos locais de combate ao desperdício alimentar. Também essas autarquias,
esses agentes, e até alguns privados, são determinantes no sucesso a este combate.
Esta problemática exige da nossa parte ações, as quais temos tomado, exige também um esforço
concertado entre todos os diferentes projetos, o qual ditará o sucesso destas ações.
Sr.as
e Srs. Deputados, podemos sempre fazer melhor. Este Plano que o Governo colocou em marcha pode
e deve ser continuamente melhorado, mas estamos a agir para combater este problema e com o esforço de
todos estamos certos de que vamos conseguir diminuir substancialmente o desperdício alimentar em Portugal.
Sr.as
e Srs. Deputados, julgo que, pelo que temos ouvido hoje nesta Câmara, no que respeita ao
desperdício alimentar, muito mais é aquilo que nos une do que aquilo que nos separa, o que é de louvar
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Ivo Oliveira.
O Sr. Ivo Oliveira (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Combater e reduzir o desperdício
alimentar é também melhorar a saúde.
O estado de saúde de uma população está intrinsecamente ligado ao tipo de alimentação e ao estilo de
vida adotado. As alterações no estilo de vida e no tipo de alimentação têm provocado o abandono de dietas
ricas em vegetais, naturalmente mais saudáveis e implicando menos desperdício alimentar e ambiental.
Na Europa, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a obesidade como a epidemia do século XXI.
Pela falta de tempo e de controlo sobre o que se come — e já foi abordada a questão da segurança alimentar
—, o crescimento do fast food tem sido uma realidade. Pensa-se que se ganha tempo, mas, na verdade,
desperdiçamos saúde e qualidade de vida.
O excesso de consumo de embalagens, que também se relaciona com esta situação, piora o ambiente.
Em Portugal, metade da população tem excesso de peso. Os encargos económicos relacionados com a
obesidade são cerca de 3,5% do total das despesas com a saúde.
De acordo com uma notícia recente, publicada esta semana, 93% das crianças portuguesas ingerem sal
acima das recomendações da OMS e mais de metade ingere sal acima do tolerável.
Combater o desperdício alimentar e melhorar a saúde é valorizar também a nossa cultura gastronómica e a
dieta mediterrânica, que é até Património Imaterial da Humanidade, que tem na sua génese os valores
tradicionais do convívio à mesa, a unificação da família e a redução do desperdício alimentar.
Combater o desperdício alimentar é também gerir melhor e mais equitativamente os recursos e perceber
que têm impacto nos determinantes sociais de saúde.
Ao contrário do que foi dito neste debate pelo Sr. Deputado Bruno Coimbra, este não foi o Governo do
combate ao desperdício; pelo contrário, desperdiçou uma boa oportunidade de atuar nas variáveis críticas de
melhoria da qualidade de vida das populações: na resposta à crise, na precariedade, na pobreza e na
desigualdade.
Resposta à crise — este Governo ignorou que a crise criou mudanças de hábitos nas famílias portuguesas:
passou a consumir-se menos carne e peixe e mais fast food e, relativamente aos alimentos, os mais saudáveis