4 DE JUNHO DE 2015
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empresas comercializadoras desses produtos ao promoverem a venda embalada de quantidades excessivas
de alimento, causando o desperdício por não consumo do mesmo de 10%, 20% e até 30% do conteúdo
embalado nessas embalagens; má rotulagem por parte dos produtores e fabricantes, associada ao não
esclarecimento — logo, iliteracia — de grande parte da população consumidora em coisas tão simples,
conforme bem salientaram Os Verdes, como a diferença entre consumir «antes de» ou consumir
«preferencialmente até»; inexistência de políticas públicas claras de recolha e de distribuição entre as pessoas
mais carenciadas dos excedentes das grandes superfícies, da hotelaria, da restauração, dos estabelecimentos
de comércio ligados ao comércio alimentar em geral.
Nesse aspeto, a Europa e as políticas europeias não têm associado devidamente o desperdício alimentar à
carência, porque se, por um lado, se começa agora a falar na Europa e a querer implementar medidas de
combate ao desperdício alimentar, por outro lado, não estar associado à carência implica que na área
alimentar haja regulamentos europeus muito rígidos e que impedem muitas vezes que o produtor ou o
fabricante possam combater melhor o desperdício alimentar, por exemplo na parte da embalagem, do
transporte e da rotulagem.
No mundo inteiro, estima a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), que
são desperdiçados cerca de um terço dos alimentos produzidos e na Europa estima-se o desperdício anual
entre 30% a 50% de alimentos na cadeia alimentar que medeia o produtor e o consumidor. Em Portugal,
dados de 2012 estimam essas perdas em 17%.
Consciente dessa realidade, o Governo, através do Ministério da Agricultura e do Mar, já tomou diversas
medidas, umas diretamente e outras através de protocolos com instituições privadas e do setor social,
nomeadamente com as instituições de solidariedade social, com a Cáritas, com estabelecimentos de
distribuição, de grande distribuição e de retalho locais.
Gostaria de salientar, entre as medidas que o Governo tomou, as que dizem respeito à área da produção,
com os protocolos de que falámos e com a criação da plataforma do Banco Alimentar; à área da
transformação, com a elaboração do código de boas práticas; à área da educação e comunicação, com a
elaboração dos folhetos de informação que já aqui foram referidos e com a elaboração de conteúdos
programáticos para a formação avançada de professores e do 1.º ciclo para serem iniciados já no próximo ano
letivo; à área da sensibilização e responsabilização, com o lançamento da iniciativa PRA-TØ, que é o
reconhecimento de práticas de prevenção do desperdício alimentar, uma ligação do Governo com a sociedade
civil; à área de regulação, agilização e reconhecimento, com o estudo de avaliação e segmentação do
desperdício alimentar em Portugal, sugerindo propostas e linhas de atuação futura e na promoção e
comercialização dos produtos locais e provenientes da agricultura familiar.
Este é o programa que o Governo tem vindo a implementar com resultados que já são muito satisfatórios
no terreno e cujo conhecimento nos chega através dos diversos agentes que nele intervêm.
Mas o papel das autarquias também é fundamental. É também em relação a esta matéria que as
autarquias devem intervir pelo seu conhecimento e pela proximidade que têm do território.
Nesse contexto, gostaria de destacar a experiência pioneira da Câmara de Cascais, que contou com uma
iniciativa da responsável, à data, por essa área, a Dr.ª Mariana Ribeiro Ferreira, e no presente, em Lisboa,
num outro âmbito, mais profundo e abrangente, destaco a iniciativa do Deputado do CDS João Pedro
Gonçalves Pereira, Comissário Municipal de Combate ao Desperdício Alimentar, que propôs um Plano
Municipal de Combate ao Desperdício Alimentar, o qual foi aprovado em Assembleia Municipal de Lisboa por
unanimidade.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Por unanimidade!?
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sim, por unanimidade.
Desse plano destaco os seguintes pontos de convergência:
Criação de uma rede alimentar solidária com cobertura geográfica em toda a cidade, com base na
distribuição de refeições resgatadas;
Criação do combate ao desperdício alimentar, em ligação já protocolada com mais de 70 entidades, com
24 juntas de freguesia, IPSS, universidades, confissões religiosas e organizações não-governamentais;
Realização de uma abordagem multidimensional social, económica e ambiental do desperdício alimentar;