I SÉRIE — NÚMERO 94
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É isto que falta ao País e é também isto parte integrante daquilo a que o PCP chama uma política patriótica
e de esquerda e que estaremos disponíveis para a pôr em prática, assim seja essa a vontade dos
portugueses.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Antes de dar a palavra ao Sr. Deputado Nuno Serra, queria pedir às
Sr.as
e aos Srs. Deputados que fizessem silêncio na Câmara, pois está muito ruído e torna-se muito difícil ouvir
os Srs. Deputados que estão no uso da palavra.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Serra.
O Sr. NunoSerra (PSD): — Ex.ma
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Quero começar por
cumprimentar o Partido Ecologista «Os Verdes» pelo tema trazido hoje a debate, assinalar a sua importância e
reconhecer o consenso que este assunto alcança quer nesta Câmara quer na nossa sociedade.
Tenho a certeza de que estamos todos de acordo sobre a necessidade de combater o desperdício
alimentar. Contudo, apesar desta consciência, as ações individuais e coletivas do Homem mantêm elevados
níveis de desperdício alimentar. O problema continua a resistir e a persistir e por essa razão a importância
deste debate aqui hoje, a importância da visibilidade que hoje trazemos a este tema, que tem uma enorme
relevância na sensibilização da sociedade para o combate ao desperdício alimentar.
Uma universidade norte-americana estimou que em 2012, a nível mundial, cada habitante desperdiçava,
em média, 300 kg de alimentos.
No mesmo sentido, a FAO aponta que em 2013 o total de alimentos desperdiçados representou,
aproximadamente, 30% da superfície agrícola útil mundial, com um custo anual de 750 000 milhões de
dólares. São números impressionantes. E mais impressionantes porque são referências médias, o que
significa que em certas zonas do Globo o desperdício é ainda maior.
Na verdade, enquanto certas regiões do mundo lutam pelo aumento de alimentos para as suas populações
subnutridas, a Europa e os Estados Unidos da América desperdiçam 30% e 50%, respetivamente, dos
alimentos comestíveis ao longo de toda a cadeia, desde o produtor ao consumidor.
Outra publicação alerta para que menos de um quarto dos alimentos que são atualmente desperdiçados na
Europa e nos Estados Unidos seriam suficientes para alimentar os cerca de 800 milhões de pessoas que
sofrem de fome crónica em todo o mundo.
Na União Europeia, a perda anual é de cerca de 89 milhões de toneladas, equivalendo a 179 kg por
habitante, distribuídos por: consumidores — 42%; indústria — 39%; restauração — 14%; e distribuição — 5%.
Em Portugal, os cálculos conhecidos são menores, mas nem por isso menos graves. Estudos de 2012
apontam que ao longo da cadeia o desperdício representa 17% da produção alimentar anual, num valor
económico de cerca de 1 milhão de toneladas.
Sr.as
e Srs. Deputados, os atuais níveis de desperdício alimentar, mais do que uma questão económica,
ambiental e político-social, são acima de tudo uma questão moral e de ética.
Aplausos do PSD e CDS-PP.
Perante a pressão crescente na produção de alimentos de modo eficiente, isto é, produzir mais com menos
recursos, para satisfazer o aumento da população mundial que se estima em mais de 9000 milhões em 2050,
é essencial que os níveis de desperdício alimentar sejam reduzidos.
A par do desafio da humanidade em alimentar uma população mundial em forte ritmo de crescimento, cada
vez mais distanciada do mundo rural e concentrada em zonas urbanas, está a tornar a alimentação acessível
a todos os habitantes, independentemente da região onde se habita.
Na verdade, o atual volume de desperdício contribui para a forte pressão nos recursos e no preço dos
alimentos, dificultando o acesso a estes por parte dos mais desfavorecidos.
Por isso, combater o desperdício alimentar é também combater o problema da fome e das desigualdades
sociais no acesso a bens de primeira necessidade, como são os produtos alimentares.