12 DE JUNHO DE 2015
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Não podemos encarar afirmações daquelas que, se calhar, hoje são reconhecidas como um mero mito, que
diziam «só vamos sair desta situação empobrecendo em termos relativos e termos absolutos» — palavras do
atual Primeiro-Ministro, proferidas em 2011.
Não é um mito urbano, são palavras que foram proferidas, palavras que traçaram um caminho errado na
aposta das políticas que vinham produzindo um resultado real. E não é um mito urbano, porque mais se
aproxima de um mito grego. Um mito grego daquelas dosagens de austeridade insustentáveis e que deixaram
o país de rastos. Felizmente, não foi o nosso caso,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Porquê?!
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — … porque, felizmente, tivemos oportunidade de travar a dosagem de
austeridade, Srs. Deputados.
Vozes do PSD: — Oh!…
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Felizmente, Portugal tem um Tribunal Constitucional.
Risos do PSD e do CDS-PP.
Felizmente, Portugal tem tido a possibilidade de o reconhecer, porque tem uma ordem jurídica
constitucional que impera,…
Aplausos do PS.
… tem uma ordem jurídica constitucional que travou, na altura certa, o rumo, a dosagem de austeridade
pretendida.
Portanto, não podemos olhar para os últimos anos como se tivesse sido executado tudo aquilo que estava
traçado, tudo aquilo que radica nestas palavras, e repito, «só vamos sair desta situação empobrecendo em
termos relativos e em termos absolutos».
Ora, foi precisamente isto que aconteceu: empobrecemos em termos relativos, empobrecemos em termos
absolutos. É isto que não podemos continuar a aceitar e é isto que, seguramente, tem de mobilizar-nos para
este debate.
Aplausos do PS.
Mas, acima de tudo, Sr.as
e Srs. Deputados, aquilo que devemos fazer hoje não é recriminar-nos. Aquilo
que o Partido Socialista pretende aqui fazer hoje é, tendo consciência da realidade, tendo consciência dos
últimos quatro anos, não pretendendo reescrever os últimos quatro anos, olhar em frente. E olhar em frente
significa assunção de responsabilidades por esta Câmara, assunção do papel insubstituível que a Assembleia
da República deve ser chamada a desempenhar neste quadro, porque, reitero, não são dados que as
oposições trazem a este Parlamento, são dados que nos traz a Comissão Europeia, são dados e
preocupações que nos trazem as ONG que estão no terreno.
Estudos recentes da ENTREAJUDA e do Banco Alimentar fazem o relato, particularmente dramático, da
situação de muitas famílias que têm dificuldade em suportar os custos com a habitação, os custos com as
rendas e com as prestações das casas, os custos com a alimentação, os custos com as escolas dos filhos, os
custos com os cuidados de saúde para os mais idosos.
Aplausos do PS.
São realidades, Sr.as
e Srs. Deputados. São realidades e não mistificações. São realidades e são o dia-a-
dia dos portugueses!