18 DE JUNHO DE 2015
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Mesmo entre as pessoas idosas, onde o risco de pobreza mais decresceu nos últimos anos em Portugal,
fruto de políticas de combate à pobreza específicas e direcionadas a este segmento da população,
nomeadamente uma das medidas mais poderosas dos últimos anos no combate à pobreza dos mais velhos, o
complemento solidário para idosos, mesmo entre este grupo, a taxa de risco de pobreza subiu para 15,1%, no
ano de 2013. Ou seja, o risco de pobreza atingiu cerca de 310 000 idosos.
Sr.as
e Srs. Deputados: Há três aspetos determinantes que explicam muitos destes números que nos
impressionam, em que atingimos, em termos de pobreza e desigualdade, níveis equivalentes aos do início da
década passada.
Verifica-se um retrocesso de 10 anos que, para ser reparado e recuperado, precisa, com emergência, de
uma mudança de política e de políticas que ponha o País a crescer economicamente, a gerar riqueza, a gerar
desenvolvimento.
Aplausos do PS.
O primeiro aspeto que quero salientar é a acentuada quebra do emprego. Em consequência da política
adotada pelo atual Governo para fazer face à crise internacional de 2009, foram destruídos 216 000 postos de
trabalho.
Este valor desconcertante que o Governo insiste em desvalorizar é a principal causa da perda de
rendimento das famílias. Foi esta realidade, conjugada com a diminuição acentuada do valor do trabalho, que
levou a que, apenas em quatro anos, 456 000 pessoas emigrassem à procura de trabalho, à procura de
melhor salário num qualquer outro país. E estas pessoas são, na sua maioria, jovens qualificados, são
pessoas que fazem falta ao País, que fazem falta às famílias, que fazem falta às empresas, que fazem falta à
economia, que fazem falta a uma sociedade geracionalmente equilibrada, que fazem falta para aumentar a
natalidade e projetar o futuro.
Aplausos do PS.
O segundo aspeto determinante é a redução das prestações sociais. As prestações sociais têm contribuído
em Portugal, sem qualquer margem para dúvida, para a redução da incidência da pobreza.
Mas há um mito, um mito que a direita refere muitas vezes, de que as transferências sociais são
demasiado elevadas. E é bom que possamos hoje, aqui, neste debate sobre a emergência social, demonstrar
com seriedade, de uma vez por todas, a realidade nacional quanto a esta matéria.
Se é verdade que as pensões têm um elevado efeito redutor sobre a taxa de pobreza ao nível dos mais
eficazes da Europa, também é verdade que, no que diz respeito a transferências sociais, excluindo as
pensões, estamos longe, muito longe, de atingir, sequer, a média europeia. Atrás de nós só estão a Letónia, a
Polónia, a Itália, a Bulgária, a Roménia e a Grécia.
Com os nossos 27%, estamos longe de atingir os 63% da Irlanda — ouviram bem, da Irlanda —, o país
europeu que, apesar do programa de resgate financeiro, é aquele onde as transferências sociais, excluindo as
pensões, mais contribuem para a redução do risco de pobreza.
É fundamental que se continue a apostar nestas transferências sociais, que se reabilitem programas e
políticas que permitam que aqueles e aquelas que vivem em situação de carência tenham acesso a um
rendimento que lhes garanta os mínimos sociais, que, aliás, é um direito de cidadania consagrado no nosso
quadro jurídico.
Aplausos do PS.
O terceiro e último aspeto que quero sublinhar é o do aumento das desigualdades em Portugal. As
desigualdades, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres aumentaram no nosso País com as opções do
atual Governo para fazer face à crise. Os cortes nas prestações sociais, o desemprego, a desvalorização do
trabalho — e importa referir que o salário médio em Portugal é de 580 €, pouco mais do que o salário mínimo
— e o enorme aumento de impostos ampliaram o fosso e acentuaram um dos mais graves problemas do
nosso País, ou seja, as desigualdades na distribuição de rendimentos.