I SÉRIE — NÚMERO 103
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A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Gostava de responder aqui à tentativa de intervenção séria do Sr. Deputado do
CDS, lendo-lhe a declaração da Câmara Municipal de Évora, sobre a falta de pessoal e os constrangimentos à
contratação registados pela Câmara, que diz o seguinte: «Como constrangimentos, apontam-se
fundamentalmente os que decorrem das obrigações impostas no Orçamento do Estado — a redução do
número de trabalhadores, a redução da massa salarial, a proibição de abertura de procedimentos concursais».
Ora, veja lá, Sr. Deputado, se a culpa não é do Governo que apoia!
Mas diz ainda mais a Câmara Municipal de Évora, que, no caso dos assistentes operacionais, é o próprio
rácio definido pelo Ministério da Educação — recentemente alterado por uma portaria — que se mostra
completamente desadequado face às necessidades das escolas, porque, para um intervalo de 21 a 48 alunos,
o Governo só paga um funcionário.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Deputado, veja lá se o problema aqui não é do seu Governo!
Quem quiser aqui, no Parlamento e nas autarquias, lutar pelo emprego com direitos e combater a
precariedade, pode contar com o PCP nesse combate, porque esse é um combate do regime democrático. Por
isso, continuaremos sempre, sempre a lutar contra a precariedade, pela sua erradicação e pelo emprego com
direitos.
Aplausos do PCP.
Protestos do Deputado do CDS-PP Artur Rêgo.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Moura Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Clara Marques Mendes, não, não
estamos no bom caminho. E não quero sequer que a Sr.ª Deputada concorde comigo, pois é o Provedor de
Justiça que diz exatamente o contrário do que a Sr.ª Deputada afirmou, referindo o seguinte: «O juízo que faço
é que é flagrante a forma abusiva e ilegal como estas medidas e, em especial, a medida do contrato emprego-
inserção, têm vindo a ser utilizadas na Administração Pública, às quais urge pôr termo».
É esta a resposta que precisávamos de dar e é isto que a maioria, o PSD, não quis fazer. Quer manter
estes trabalhos forçados, quer manter as pessoas com funções permanentes sem receberem salário e sem
terem qualquer direito, sabendo que é isso que está a acontecer e que estas pessoas não podem — porque é
isso que determinam os contratos emprego-inserção — depois ter um emprego no sítio onde estiveram a
trabalhar. É o próprio contrato emprego-inserção que o proíbe!
Mas vamos falar de outras matérias. A bancada do CDS falou dos estágios. Pois bem, o Governo alterou o
período dos estágios de 12 para 9 meses para impedir os estagiários de acederem ao subsídio de
desemprego.
Vozes do BE: — Bem lembrado!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Alterem, alterem para os 12 meses, para permitir que os estagiários
tenham direito ao subsídio de desemprego!
E não vale a pena dizerem que os estágios são um trampolim para o emprego, porque não são. Os
estágios são um alçapão para a precariedade, para o trabalho mal remunerado e para baixar os salários.
E quando se fala aqui da Lei n.º 63/2013, de 27 de agosto, que resultou da iniciativa dos movimentos e das
mobilizações dos precários, que conseguiram arrancar a este Parlamento essa medida positiva, o que
verificamos é que, hoje, a aplicação desta e de outras leis encontram obstáculos. É que os senhores têm
esvaziado a Autoridade para as Condições do Trabalho, que não tem hoje meios para fazer as ações
inspetivas que precisaria. E qual é a resposta que as bancadas da direita dão aqui? A resposta é dizer que
não estão disponíveis para que a ACT veja reforçado o número de inspetores e os seus meios.