I SÉRIE — NÚMERO 104
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O Sr. Raúl de Almeida (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — … visto que a implementação de muitos dos direitos dependerá,
eventualmente, mais dos procedimentos, da formação, como tanto temos aqui referido e apostado, a vários
níveis, nomeadamente da violência doméstica, e da própria consciencialização do público, do que
propriamente da atividade legislativa.
A este respeito, a APAV realizou recentemente — aliás, foi apresentado em fevereiro — um inquérito sobre
a perceção portuguesa relativa aos direitos das vítimas de crime, cujos resultados considero que devem
merecer a nossa reflexão. Por exemplo, mais de metade dos portugueses não sabem avaliar quem é a vítima
numa situação de crime.
O estudo, em suma, conclui que existe, de facto, uma tendência para o reconhecimento generalizado dos
direitos das vítimas de crime, fruto também de muito investimento a este nível, mas, por outro lado, uma
perceção um pouco menos elevada sobre a aplicação, na prática, desses mesmos direitos.
Vou concluir assumindo a oportunidade de passarmos para um modelo reforçado de inclusão, respeito e
reconhecimento de direitos.
Não tenho dúvidas em afirmar que, hoje, damos um passo em frente, acabando, aliás, com uma certa
diferenciação, atualmente existente, e que se ficou a dever a uma transposição parcial da decisão-quadro de
2001, que já referi, para a primeira parte da Lei n.º 112/2009, conhecida como o Estatuto da Vítima de
Violência Doméstica.
Sr. Deputado Jorge Lacão, o Sr. Deputado diz que esta transposição, hoje, é minimalista.
O Sr. José Magalhães (PS): — Toda a gente diz!
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Acho que minimalista foi o que aconteceu, de facto, em 2009.
Naturalmente, não me vou pronunciar negativamente em relação ao Estatuto da Vítima de Violência
Doméstica, mas impõe-se — sem dúvida! — garantir a aplicação uniforme de direitos que, já naquela altura,
foram pensados e plasmados para todas as vítimas de crime, de forma a evitar que haja até uma perceção de
hierarquias de vítimas.
As soluções encontradas entre o acervo legislativo nacional e o impulso europeu merecem, por isso
mesmo, a nossa saudação, havendo, naturalmente, e como sempre, Sr.ª Ministra, toda a disponibilidade para
debater em sede de especialidade eventuais clarificações. Ou seja, não é, naturalmente, uma porta que se
fecha — indo também ao encontro das palavras do Sr. Deputado António Filipe —, diria mais, é uma porta que
se abre, ainda mais, em nome da justiça.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra da Justiça, Sr.ª Secretária de Estado dos
Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Srs. Deputados: Quero mesmo discutir com a Sr.ª Ministra da Justiça
esta importante iniciativa legislativa, relativa ao estatuto da vítima — é uma matéria sobre a qual já tínhamos
suscitado que estávamos em tempo de o fazer —, mas não posso evitar algumas questões sobre um aspeto,
enfim, bem negativo de que hoje tivemos conhecimento.
Utilizar quadros da Administração Pública para monitorizar programas dos partidos da oposição é
inaceitável. Parece-me que nos fez aqui uma espécie de pedido de desculpas, no sentido de dizer que isso
está mal, mas, em todo o caso, Sr.ª Ministra, talvez seja a ocasião para nos explicar se não foi a Sr.ª Ministra
que deu a indicação, se foi a sua chefe de gabinete ou quem é que dá uma orientação destas, e, em todo o
caso, o que é que vai fazer, como é que vai agir relativamente a uma atuação desta natureza, que não faz
qualquer espécie de sentido.
Objetivamente, não podemos ter a Administração Pública nem os seus dirigentes a fazerem tarefas desta
natureza. Enfim, também já conhecemos alguns dos seus pedidos de desculpa, que depois não têm,