I SÉRIE — NÚMERO 107
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O emagrecimento do Estado paralelo, Sr. Ministro, foi apenas o pretexto que o Governo usou para
implementar um programa vincadamente ideológico de reconfiguração do Estado, que pode ser resumido da
seguinte forma: Estado mínimo para os trabalhadores e para o povo; Estado máximo para o grande capital.
Sr. Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, a intenção declarada pelo Governo de combater
o Estado paralelo não é genuína. Isso mesmo pode ser comprovado no caso do regime fundacional das
instituições de ensino superior.
Há três anos, no debate da atual Lei-Quadro das Fundações, quando confrontado pelo PCP sobre esta
questão, o Sr. Ministro disse que o que o anterior Governo do PS fez foi incompreensível, e vou citá-lo: «fingir
que as universidades passavam a ser fundações», «não se pode criar a ficção de que algumas delas são
fundações, porque não são». E acrescentou: «espero que a breve prazo deixem de ser fundações, porque
verdadeiramente não são fundações». Foi isto que o Sr. Ministro disse, em março de 2012, a propósito de uma
questão que lhe foi colocada pelo Grupo Parlamentar do PCP.
Mas o Governo teve quatro anos e, nestes quatro anos, não só não acabou com o regime fundacional do
ensino superior, como, recentemente, os Deputados do PSD e do CDS rejeitaram uma proposta do PCP que
ia nesse sentido. O Governo não só não quis acabar com o regime fundacional do ensino superior como
estrangulou financeiramente as universidades públicas, reduzindo a sua capacidade para cumprirem as
funções que lhes estão atribuídas por lei. E este exemplo, Sr. Ministro, é bem elucidativo das reais intenções
do Governo.
Por isso, Sr. Ministro, pedia-lhe que reconhecesse que o objetivo do Governo não é o de emagrecer o
Estado paralelo mas, sim, o de atacar o próprio Estado e as suas funções.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro da Presidência e dos
Assuntos Parlamentares.
O Sr. Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Paulo
Sá, o Sr. Deputado não me fez propriamente qualquer pergunta, mas ouvi com atenção a sua profissão de fé
na omnipresença do Estado,…
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Citei-o!
O Sr. Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares: — … que é conhecida: para o PCP tudo
devia ser público, o Estado devia estar presente em tudo.
Agora, o que é verdade, Sr. Deputado, é que houve uma utilização claramente abusiva, da parte dos
poderes públicos,…
O Sr. António Filipe (PCP): — Ah, mas não fomos nós!
O Sr. Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares: — … não apenas do Estado, a nível da
administração central, mas também das empresas do setor público do Estado, das autarquias e das
universidades, que usaram e abusaram, ao longo de vários anos, do instituto fundacional para fugir a regras
do perímetro orçamental, da contratação pública e até de estatutos remuneratórios, que são mais rigorosos e
mais estritos dentro da Administração do que fora da Administração, em entidades com personalidade jurídica
diversa, como são as fundações.
O Sr. António Filipe (PCP): — Está a ver?!
O Sr. Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares: — É tudo isto aquilo a que chamamos o
Estado paralelo e foi sobre tudo isto que esta Lei-Quadro veio estabelecer algumas regras e acabar,
decididamente, com a possibilidade de continuarem a proliferar essas práticas, claramente abusivas.