I SÉRIE — NÚMERO 11
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A alternativa ao desemprego não é a precariedade, é o emprego com direitos. Por isso mesmo, as soluções
que hoje trazemos à discussão, e sobre as quais gostaríamos de vos ouvir, pretendem o seguinte: que os
trabalhadores em situação de desemprego e estágios profissionais não possam ocupar postos de trabalho
permanentes; que, sempre que existam nos serviços públicos vagas de quadro por suprir, sejam abertos
concursos para o recrutamento de trabalhadores; que, sempre que existam nas empresas e outras entidades
vagas de quadro por suprir, os trabalhadores sejam contratados sem termo, impedindo, nestes casos, o recurso
a estágios e a contratos emprego-inserção; que as necessidades por suprir em empresas e serviços públicos
não possam ser preenchidas por trabalhadores em situação de desemprego, através de contratos emprego-
inserção ou estágios profissionais; e que, nos casos em que tal aconteça, a entidade ou a empresa em causa
fique privada de aceder a quaisquer benefícios, subvenções ou subsídios públicos, bem como de recorrer a
qualquer medida dita ativa de emprego durante o prazo de um ano.
São propostas concretas de combate à precariedade. É o compromisso do PCP, é para isso que cá estamos.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para apresentar o projeto de resolução do Bloco de Esquerda,
tem a palavra o Sr. Deputado José Moura Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se queremos cumprir o
compromisso de combate à precariedade, nomeadamente à precariedade que a direita criou nos últimos anos
em Portugal, esse compromisso tem de envolver, obrigatoriamente, o combate a essa técnica de precarização,
das mais significativas que houve em Portugal nos últimos anos, que é o recurso à utilização de políticas ativas
de emprego, designadamente os contratos emprego-inserção e os estágios do Instituto do Emprego e Formação
Profissional (IEFP), para preencher necessidades permanentes e dissimular relações de trabalho às quais
deveria corresponder um contrato.
O caso dos contratos emprego-inserção é provavelmente o mais indecoroso, ao ponto de até ter motivado,
durante o Governo da direita, uma posição contundente do Provedor de Justiça, que alertava para a ilegalidade
da utilização destes contratos, que têm servido, como sabemos, para não criar o emprego necessário no Estado
e nas instituições particulares de solidariedade social (IPSS), para esconder os efeitos da diminuição dos
trabalhadores da função pública — só no mandato do anterior Governo diminuíram em 49 500 os trabalhadores
da Administração Pública central, e há ainda os das autarquias —, para criar uma pressão para baixar salários
e para criar um contingente de dezenas de milhares de trabalhadores sem quaisquer direitos. À medida que se
diminuía o número de trabalhadores dos vários organismos do Estado, aumentava o número de contratos
emprego-inserção: 18 000 em IPSS; 12 000 na Administração Pública; e 38 000 nas autarquias, aliás, diga-se
de passagem, em autarquias de todas as cores. Estes são trabalhadores que recebem o subsídio de
desemprego e uma bolsa de 83 €, não para preencher, como era suposto, necessidades temporárias mas
necessidades permanentes, sabendo que, no fim, não terão nem contrato, nem emprego, nem inserção.
No caso dos estágios do IEFP, eles deixaram de cumprir a missão para que, supostamente, tinham sido
criados e transformaram-se num negócio de promoção da precariedade, com empresas viciadas na utilização
de subsídios públicos para terem trabalhadores, nomeadamente licenciados a preço low cost, e para utilizarem
rotativamente os estagiários para preencherem postos de trabalho, com um resultado que foi um fiasco, do ponto
de vista da criação de emprego com direitos, já que apenas 5,3% dos estágios do IEFP deram origem a uma
contratação efetiva na mesma empresa.
Em abril deste ano, por proposta do Bloco de Esquerda, foi aprovada uma recomendação para que a
Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) fiscalizasse a utilização abusiva dos contratos emprego-
inserção e dos estágios do IEFP e foi inscrita no Orçamento do Estado de 2016 a realização de um diagnóstico
sobre a precariedade na Administração Pública e no setor empresarial do Estado. Estamos a falar de milhares
de trabalhadores que estão em organismos públicos, como o IEFP, a RTP, as escolas, os centros de saúde, os
hospitais, mediante a utilização de contratos emprego-inserção ou falsos recibos verdes ou até falso outsourcing
para preencher necessidades permanentes.
Por isso, propomos medidas concretas, designadamente que essa campanha da ACT decorra nos próximos
três meses, que esse diagnóstico sobre a precariedade na Administração Pública seja divulgado ainda este mês,