I SÉRIE — NÚMERO 12
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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Santinho Pacheco, em nome do
Grupo Parlamentar do PS.
O Sr. Santinho Pacheco (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estava eu sentado na bancada
parlamentar, muito sossegadinho, a ouvir com atenção e respeito o Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira e veio-
me à mente um conterrâneo meu, Vergílio Ferreira, que gostava de anotar os livros que lia. Num deles, perante
um texto sem grande interesse e sem nível literário, anotou: «Que foguetório! Parece a sala de troféus do
Benfica»!
A descrição que o Sr. Deputado fez das medidas tomadas pelo Governo anterior foi isso mesmo que me fez
lembrar: um foguetório.
Aplausos do PS.
Pensei que, nestes 40 anos de poder local democrático, já tinha visto e ouvido tudo sobre o interior, mas o
PSD tem sempre a capacidade de nos surpreender.
Quem não tem memória política pode dar-se ao luxo de perder a vergonha e o respeito por si próprio e pelo
seu passado.
Este projeto de lei, que espremido não dá nada, só acontece porque estamos a caminho das eleições
autárquicas e é preciso evitar danos colaterais, lançar uma estratégia de boas intenções. Depois, porque é
preciso responder às conclusões da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, o PSD quer parecer o
que nunca foi, quando liderou o Governo: o verdadeiro partido do interior.
A coesão territorial é, hoje, uma emergência nacional. Criar um estatuto que mais parece um ferrete para os
territórios de baixa densidade não resolve nenhum problema, mas vinca, acentua o País bipolar e assimétrico.
Um território assim definido é apenas um espaço confinado, é uma espécie de gueto.
Aplauso do PS.
A baixa densidade não caracteriza, só por si, um território. E, já agora, onde estão os territórios de muito
baixa densidade que prometiam no último Programa do Governo?
Antes, era o discurso do «coitadinho», dos custos da interioridade, agora querem pôr a essas terras um
carimbo que nos marca ou um selo que nos apouca.
Este diploma traduz também a fórmula de quem, discretamente, quer vir ao Perdoa-me, sem ter a coragem
de confessar que errou, que falhou com o interior durante os quatro anos em que governou com o CDS.
Aplausos do PS.
Todo o articulado ou visa alcançar objetivos já definidos em legislação em vigor ou, então, é a pura
transposição de direitos inscritos na Constituição.
Fazer um projeto de lei para consagrar que todos têm direito a iguais oportunidades, à cooperação entre
regiões, ao desenvolvimento económico, ao bem-estar e ao emprego, à mobilidade geográfica ou que incumba
ao Estado apoiar o desenvolvimento sustentado, a promover o aumento das taxas de natalidade, a garantir a
fixação de jovens ou a captação de investimento é tão relevante e útil como um meteorologista anunciar que a
neve é fria e a chuva molha.
Aplausos do PS.
Mas o mimo maior de toda esta narrativa feita de lugares comuns é a sua principal novidade e originalidade,
o artigo 27.º, sobre o encerramento de serviços públicos nos territórios de baixa densidade.
Só podem estar a brincar connosco!