I SÉRIE — NÚMERO 26
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desagradável por sinal, de facilitismos no passado que levaram a situações muito graves, como é o caso de S.
Pedro da Cova, em Gondomar.
Não queremos, uma vez mais, lamentar. Queremos prevenir este caso e todos os casos futuros, e é isso que
exigimos à tutela. Por isso, Sr. Ministro, aguardamos, hoje, as respostas que seguramente tem para nos dar
para todas estas nossas preocupações, e que são também de todos os portugueses, nomeadamente daqueles
que habitam no distrito de Setúbal.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, tem a
palavra o Sr. Deputado Jorge Costa.
O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Deputados: Por muito que
desagrade à direita, e ao Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira em particular, esta é mesmo uma história exemplar
da política de privatização no setor dos resíduos, e é uma história exemplar na origem como é também no
destino.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Não, não é!
O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — É uma história exemplar na origem porque esta importação decorre da
incapacidade da região da Campânia, em Itália, de fazer face a essa gestão, fruto da privatização do setor dos
resíduos naquela região. É o facto de a gestão dos resíduos naquela região ter sido capturada por interesses
privados que fez com que se instalasse o caos no setor e sobrasse para Portugal a importação destes resíduos.
E é também uma história exemplar de privatização no destino, Portugal, porque o negócio privado que aqui
está a decorrer aligeira e diminui a atenção pública a cada uma destas importações e a cada um destes
momentos.
Foi por isso que a APA fez fé no que lhe disseram as autoridades italianas e se dispensou de qualquer
verificação, até soar o alarme da comunicação social, como já foi dito pelo Sr. Deputado que falou antes de mim
— pelo menos é essa a notícia que até agora existe. E foi preciso que esse alarme fosse dado para que fosse
verificada a real natureza destes resíduos, que à partida eram apresentados como resíduos banais e domésticos.
Portanto, neste momento, é necessário esclarecer três aspetos: um que diz respeito ao presente e outros
que dizem respeito ao passado e ao futuro, nesta matéria.
Em relação ao presente, é preciso assegurar que este lixo é devolvido no caso de não cumprir aqueles que
eram os requisitos e no caso de não ser aquilo que foi anunciado inicialmente e para o qual foi realizado um
concurso internacional. Queremos que seja explicado porque é que, numa fase inicial, a APA não informou a
IGAMAOT e se limitou a fazer fé naquilo que as autoridades italianas vinham dizendo. E, perante a verificação
da existência destes índices de matéria orgânica nos resíduos, é de exigir a sua devolução quanto antes, para
evitar qualquer contaminação.
Em relação ao passado, é importante verificar também negócios anteriores de importação de resíduos desta
natureza, em particular resíduos que, no momento da sua importação, tenham sido apresentados como resíduos
banais e domésticos, como resíduos sólidos urbanos, porque são esses resíduos e são essas garantias dadas
pelas autoridades italianas que hoje estão sob suspeita, mas que podem ter sido dadas ontem por outras
autoridades de outros países e sobre as quais pode ter sido feita a mesma fé que foi feita desta vez. Portanto,
é preciso investigar o passado, investigar a forma como estas empresas atuaram, de que maneira importaram.
Em particular a Sapec, da qual é administrador o anterior Secretário de Estado do Ambiente, do PSD, tem contas
para dar sobre esta matéria.
Em relação ao futuro, as normas devem ser mais apertadas. A importação de resíduos não deve ser
considerada um negócio central neste setor e, em casos específicos em que ocorra, deve garantir-se uma
fiscalização rigorosa.
É com esta realidade que nos vamos confrontar sempre, e por isso a fiscalização é hoje tão importante,
porque a privatização do setor dos resíduos na Europa, seja em Itália, seja em Portugal, faz com que a vigilância
pública e a responsabilidade das autoridades que têm a seu cargo esta verificação seja uma prioridade, seja