20 DE JANEIRO DE 2017
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O Sr. Moisés Ferreira (BE): — É que os privados roubam os médicos ao Serviço Nacional de Saúde, vão
buscar os internos que são formados no Serviço Nacional de Saúde. Os privados beneficiam quando o Serviço
Nacional de Saúde se degrada e, portanto, querem que o Serviço Nacional de Saúde se degrade. E o Estado
vai continuar a financiar grupos privados?!
O Grupo Mello depende, em 40%, das PPP,…
Protestos da Deputada do CDS-PP Cecília Meireles.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — … o Grupo Luz Saúde depende em 25% das PPP. O Estado vai continuar a
financiar os grupos privados que depois querem degradar o Serviço Nacional de Saúde?!
Não faz sentido para quem defende o Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do BE.
É uma questão de princípio, porque a gestão privada preocupa-se com o lucro e a gestão pública preocupa-
se com os utentes. Mas é, também, uma questão de garantir as melhores condições de acesso aos utentes.
Os hospitais PPP reencaminham os doentes que consideram mais caros para outros hospitais; os hospitais
públicos atendem toda a gente. Os hospitais PPP mantêm litígios com o Estado, porque não querem dispensar
medicamentos de HIV (vírus da imunodeficiência humana) ou de esclerose múltipla, porque são caros, mas os
hospitais públicos dispensam esses medicamentos a quem precisa. E é uma questão, essencialmente, de
qualidade de serviço.
O Sr. Ministro, há pouco, referiu o benchmarking da saúde, onde se podem ver os indicadores. Vejam-se os
indicadores assistenciais como as consultas realizadas a tempo, as cirurgias feitas dentro do tempo, as
percentagens de reinternamento, a sépsis pós-operatória: os hospitais de gestão pública são todos melhores,
nestes indicadores, do que os hospitais PPP. Quando assim é, porquê continuar os hospitais PPP, se estes não
garantem vantagem nenhuma?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro da Saúde.
O Sr. Ministro da Saúde: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Moisés Ferreira, diria, como aliás o fiz na primeira
intervenção, que as razões políticas que o Sr. Deputado aduz são absolutamente respeitáveis, do ponto de vista
da apreciação política.
Mas o Sr. Deputado terá de compreender que o PS, no seu programa eleitoral e no Programa do Governo,
assumiu com os portugueses um compromisso. E o compromisso é este: testar se a solução é boa ou não,
através da realização do concurso, de acordo com a recomendação da UTAP (unidade técnica de
acompanhamento de projetos). Se, com um caderno de encargos mais exigente, que blinde as falhas que o Sr.
Deputado enunciou — e que, noutras ocasiões, tenho tido oportunidade de explicitar — no final desse tempo
aquilo que aparecer for pior para o interesse público, o Estado e o Governo não estão, em nenhuma
circunstância, obrigados a fazer a entrega desse hospital a essa entidade privada.
Sr. Deputado, queria ainda dizer que todos temos, nesta Câmara, um imenso respeito pelo Dr. António
Arnaut, eu, particularmente, pela amizade e pelas razões de ligação política que tenho com ele. Mas há uma
coisa que também não podemos fazer, em nome do interesse público, que é diabolizar o papel dos atores
privados no setor de saúde.
Vozes do BE: — Ah!
O Sr. Ministro da Saúde: — Nomeadamente, por exemplo, a questão dos medicamentos, a questão das
farmácias. São agentes privados e não nos passa pela cabeça nacionalizar as farmácias ou nacionalizar as
companhias farmacêuticas.