10 DE MARÇO DE 2017
35
Não tardou até que se percebesse que a supervisão e a regulação eram ilusões manifestamente incapazes
de conter o assalto aos bancos portugueses. Pelo contrário, deram-lhes cobertura.
Veja-se o caso BES: como o PCP denunciou, o Banco de Portugal sabia, pelo menos desde 2001, dos graves
problemas do BES e nunca interveio. Desde a utilização do RERT (Regime Excecional de Regularização
Tributária), por parte de Ricardo Salgado, que o PCP questionava o Governo e o Banco de Portugal sobre a
idoneidade do banqueiro e o Governador do Banco de Portugal nunca interveio, apesar de ter todos os motivos
para o fazer.
Se o Governador tem responsabilidades na forma como foram conduzidos atos de supervisão, o Governo
PSD/CDS tem as responsabilidades políticas diretas nas ações do Governador e nas opções políticas que
prostraram o País perante os grandes grupos económicos.
Temos o direito de afirmar que o Banco de Portugal deveria ter feito mais do que enviar cartas aos
banqueiros, do que os aconselhar ou de lhes fazer sugestões, mas temos também o dever de afirmar que houve
um Governo PSD/CDS que legitimou a ação do Governador do Banco de Portugal e o reconduziu, mesmo
depois de serem conhecidas muitas das suas falhas graves.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — O Governador do Banco de Portugal e o Governo PSD/CDS, de mãos dadas,
enterraram o País para salvar banqueiros.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, do que Portugal precisa, do que Portugal necessita é de uma outra política.
Portugal necessita de recuperar a sua soberania monetária e bancária,…
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … incluindo o controlo nacional do Banco de Portugal, que está transformado
numa sucursal do Banco Central Europeu.
Portugal precisa de assegurar o controlo público da banca.
Portugal precisa de resgatar a sua soberania monetária, libertando o País da submissão ao euro, colocando
o sistema bancário ao serviço do povo e do País.
É esse o caminho da política alternativa que o PCP defende para garantir o progresso e o desenvolvimento
e para colocar a banca ao serviço do povo e do País.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção em nome do Grupo Parlamentar do
CDS-PP, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, Srs. Secretários de Estado,
Sr.as e Srs. Deputados: Assistimos, durante esta tarde, a uma extraordinária tentativa de reescrever o passado.
E é curioso o passado que os Srs. Deputados do PS, do Bloco de Esquerda e do PCP tentam criar, porque é
um passado em que o mundo começou em 2011.
O Sr. Ministro das Finanças vem aqui e queixa-se da herança? Ó Sr. Ministro, já lhe ocorreu que um Governo
que herdou um país na bancarrota, se calhar, tinha uma herança bastante mais pesada do que aquela de que
o Sr. Ministro se pode agora vir queixar?
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
É também muito estranho, é, de facto, quase um mundo ao contrário ouvir que muitas críticas que o PS e,
sobretudo, o Bloco de Esquerda e o PCP fazem são exatamente as mesmas que ouvi Ricardo Salgado fazer à
supervisão e ao Governador do Banco de Portugal.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!