I SÉRIE — NÚMERO 73
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A petição que hoje discutimos, e cujos argumentos reconhecemos e valorizamos, é trazida a debate um
pouco extemporaneamente, no nosso entender, na medida em que o projeto de lei n.º 65/XIII (1.ª), da autoria
do PCP, aprovou medidas para a criação de uma rede de centros de recolha oficial de animais e para a
modernização dos serviços municipais de veterinária, posteriormente vertidas na Lei n.º 27/2016, de 23 de
agosto, onde estão plasmadas todas as inquietações que os Srs. Peticionários identificam.
Com efeito, com a aprovação desta lei ficou legislado o fim do abate de animais errantes como forma de
controlo da população e passou a ser permitido apenas por «motivos de saúde ou de comportamento».
Defendemos, também, a importância da responsabilidade do Estado em assegurar a integração de
preocupações com o bem-estar animal no âmbito da educação ambiental, desde o 1.º ciclo do ensino básico,
bem como a dinamização de campanhas contra o abandono de animais.
Consideramos legítima a opção das famílias — e não um luxo — de, independentemente da sua situação
económica e financeira, adotar e cuidar de animais, até por questões de solidão e de pobreza entre os idosos,
mas sinalizamos a necessidade de se proteger a saúde pública, a higiene e o próprio bem-estar dos animais.
Nesse sentido, propusemos a criação de uma rede de centros oficiais de recolha de animais e a criação de
mecanismos legais para estimular campanhas de esterilização e de vacinação.
Apresentamos agora um projeto de resolução, recomendando ao Governo a necessidade urgente da
regulamentação da Lei n.º 27/2016, de 23 de agosto, para que esta seja implementada, produza efeitos e tenha
a eficácia pretendida.
Pretendemos, ademais, recomendar que, no prazo de um ano após ter sido regulamentada a referida Lei, se
proceda a uma avaliação, pelas entidades envolvidas, sobre os efeitos práticos da Lei e as dificuldades sentidas
na sua aplicação, para que, no futuro, se possa proceder a eventuais melhorias legislativas.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Manuel Pureza.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Queremos exprimir a nossa
compreensão para com as preocupações expressas nesta petição. Felizmente, a Assembleia da República deu
já passos para as resolver, em grande medida, através de uma lei de 2016, que proíbe práticas de abate de
animais errantes como forma de controlo da população, até estabelecendo prazos dilatados para adaptação dos
canis, justamente no sentido de incorporarem a esterilização como abordagem dominante. Só que ainda não há
regulamentação desta lei. Portanto, queremos exprimir aqui, em primeiro lugar, a nossa preocupação pelo facto
de não haver qualquer regulamentação ainda adotada.
Queremos identificar cinco desafios que esta petição nos suscita e aos quais entendemos que esta Casa
deve dar resposta.
Primeiro, não se conhece com rigor mínimo o universo de animais entrados em canis ou gatis. Os números
referidos anualmente são números irreais e, portanto, é necessário, em primeiro lugar, uma base de dados
nacional, com a inserção de cada animal — espécie, sexo, origem, destino. Esta deve ser uma prioridade.
Segundo, a proibição de que estes animais tenham um destino diferente do da devolução ao local de origem
ou da adoção.
Terceiro, a dotação dos serviços médico-veterinários municipais dos meios humanos e técnicos necessários
para o tratamento de doenças comuns e para as políticas de captura, esterilização e devolução.
Quarto, a fiscalização rigorosa das instalações e dos atos médico-veterinários praticados, o que implica maior
responsabilização da DGAV (Direção-Geral de Alimentação e Veterinária).
Finalmente, quinto, a adaptação dos canis e gatis ao novo modelo de relação com os animais, que a
legislação mais recente tem consagrado. Esta é uma função do Estado, ao nível municipal, e que o Estado não
pode alienar. Temos, portanto, todos, enquanto sociedade para a qual o bem-estar dos animais se tem tornado
um valor importante, que exigir que o Estado cumpra essa competência e que o faça rigorosamente.
O Bloco de Esquerda dará a estes cinco desafios e à resposta a estes cinco desafios todo o seu empenho e
contribuirá para que elas se concretizem em nome de uma sociedade mais decente.
Aplausos do BE.