27 DE ABRIL DE 2017
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro: O processo de
saída do Reino Unido da União Europeia, vulgarmente designado por Brexit, sendo um fator demonstrativo da
crise da União Europeia, está, como outros fatores demonstrativos do mesmo facto, a ser instrumentalizado não
só por um maior aprofundamento do processo de integração capitalista europeu, mas também por uma maior
concentração de poder no diretório das potências europeias.
Ao mesmo tempo, este processo negocial está a ser transformado num verdadeiro ataque aos direitos do
povo britânico, que, sob as mais diversas formas e nos mais diversos sentidos, tem sido visado com um caminho
de pressão no sentido da ameaça de perda de direitos sociais e laborais, perda de um conjunto de condições
de vida e de trabalho que, necessariamente, são motivo de preocupação para o povo britânico e que não
podemos aceitar como forma de expressão que são de um processo de chantagem e de condicionamento do
povo britânico.
Obviamente que o caminho tem de ser outro, o de respeitar a vontade do povo britânico num processo que
não deve servir para subverter essa vontade e essa decisão soberana assumida pelo povo britânico e em que
é central a necessidade de acautelar não só os interesses de Portugal num quadro de relacionamento bilateral
histórico que existe entre os dois Estados mas também, como é óbvio, os direitos dos cidadãos portugueses
que residem e trabalham no Reino Unido.
Sr. Primeiro-Ministro, um aspeto relevante nesta discussão — e que, de resto, já ouvimos hoje durante o
debate pela voz do Sr. Deputado Miguel Morgado — é a tentativa de colocar toda a contestação à União
Europeia no mesmo saco do nacionalismo e da extrema-direita, o que, obviamente, não podemos aceitar. Aliás,
esta comparação que o Sr. Deputado Miguel Morgado procurou fazer entre as posições que assumem aqueles
que são os herdeiros do fascismo e as posições daqueles que são os herdeiros de quem combateu o fascismo
durante o século XX, de facto, só pode servir para branquear as posições da extrema-direita, para procurar
aligeirar o sofrimento e o martírio que o fascismo, no século XX, causou aos povos europeus. Obviamente que
essa é uma perspetiva que não podemos aceitar.
De resto, Sr. Primeiro-Ministro, julgamos que o Brexit não é nem nacionalismo, nem extrema-direita. Encerrar
essa decisão do povo britânico nessa conclusão e confundi-la com o nacionalismo e as posições da extrema-
direita é, de facto, dar força à extrema-direita e ao status quo da União Europeia. Existe, de facto, um grande
afastamento e um grande descontentamento dos povos europeus em relação à União Europeia, mas esse
descontentamento e esse afastamento têm raízes nas políticas e nas opções de destruição de direitos sociais e
laborais, promovidas pela União Europeia.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Procurar reconduzir o descontentamento e o afastamento dos povos em
relação à União Europeia às posições e às propostas da extrema-direita significa não só negar as raízes
objetivas desse descontentamento e desse afastamento da União Europeia, mas também branquear as
posições da extrema-direita, que, Sr. Primeiro-Ministro, são opostas às dos povos europeus quando afirmam o
seu descontentamento.
Quando os povos europeus afirmam descontentamento em relação à União Europeia é porque exigem mais
liberdade, mais democracia, mais desenvolvimento, mais progresso e mais justiça social. Obviamente que as
posições da extrema-direita, opondo-se à União Europeia, vão exatamente em sentido contrário: impõem menos
democracia, menos liberdades, menos desenvolvimento e piores condições de vida para os trabalhadores e
para os povos.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, isto levanta a necessidade de enfrentar essas raízes objetivas que estão na
origem do descontentamento dos povos em relação à União Europeia e que se encontram nas imposições dos
partidos — algumas das quais tivemos, de resto, oportunidade de discutir no debate anterior — que resultam
das regras do euro e da União Económica e Monetária, da governação económica, que amarram a soberania
dos povos e que os impedem de decidir por si o melhor caminho para o seu desenvolvimento e progresso, que
têm destruído as economias nacionais, em particular de países como Portugal.
Quando falamos com os portugueses que trabalham nos mais variados setores produtivos — na agricultura,
na pesca, na indústria —, verificamos que há uma identificação muito clara entre a destruição da capacidade