1 DE JULHO DE 2017
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O preenchimento dos vazios do mosaico tradicional agro-silvo-pastoril diversificado foi substituído por
povoamentos florestais monoespecíficos de pinho e eucalipto, criando condições para a situação que atualmente
se verifica: aumento de frequência dos incêndios e da área ardida.
Acresce a este fenómeno um problema visível na forma como o Estado olha para tudo isto, uma opção
política dos governos das últimas décadas por um modelo económico produtivista extractivista, que financia com
dinheiros públicos setores privados que contribuem para a uniformização e continuidade da mancha florestal
combustível e para o despovoamento do mundo rural. Falamos muito concretamente dos apoios à plantação
desordenada de eucalipto e de pinheiro e dos inadequados financiamentos à produção intensiva de gado de
carne e de leite.
O que faz sentido é que os dinheiros públicos sejam utilizados para pagar benefícios comuns que são
produzidos pela economia. Esta é uma questão central, é uma questão de prioridades, Sr. Ministro.
A única forma de começarmos a fazer uma boa gestão da floresta é acabarmos com os apoios à produção
que não tem nenhum valor social nem ecológico.
Sr. Ministro, quem produz leite e quem produz carne que vá resolver os seus problemas no mercado e que
os dinheiros, que agora são esbanjados pelo Estado nestes setores, sejam transferidos para o pagamento de
serviços dos ecossistemas e para travar o abandono rural. É bem mais útil pagar a pastores ou a resineiros que
fazem a gestão dos serviços dos ecossistemas.
O fundo florestal permanente e o fundo ambiental estão absolutamente capturados pelo Estado e não
chegam aos produtores, não financiam a produção de biodiversidade nas matas nem a sua gestão.
Defendemos que as funções que os usos florestais e pastoris desempenham, nomeadamente as
relacionadas com o equilíbrio do ciclo hidrológico, com a redução da erosão do solo, com a proteção de habitats
e de espécies naturais, com o acréscimo da biodiversidade, com o desenvolvimento de recreio e turismo,
enquanto complemento interessante daqueles usos, devem ser valorizados nas políticas públicas.
O Estado deve apostar na recriação do mosaico agro-silvo-pastoril diversificado, na proteção dos
aglomerados por áreas de agricultura e na substituição do pinheiro e do eucalipto por espécies, tanto quanto
possível, autóctones folhosas. O pinheiro e o eucalipto devem manter-se em áreas de dimensões restritas, de
modo a constituir um fundo de maneio para os proprietários.
Sr. Ministro, outra forma de se encontrar uma equação económica viável para o território é valorizar aquilo
que temos. Ao contrário do exemplo do Tua e do Tâmega, onde se afunda o mundo rural, deixamos três bons
exemplos, em Portugal, de municípios que tiveram estratégias de desenvolvimento assentes nos recursos
próprios, naquilo que é único: Arouca, que apostou no turismo de natureza, em particular no turismo ribeirinho
e no turismo geológico; Castelo de Vide, que se apoiou no turismo cultural e também de paisagem;…
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. André Silva (PAN): — Vou terminar, Sr. Presidente.
… e Idanha-a-Nova, que tem apostado no turismo rural e paisagístico e em formas de produção sustentáveis.
Sr. Ministro da Agricultura, queria colocar-lhe uma questão. Nas últimas décadas, o Estado tem apoiado e
estimulado fortemente, com muitos milhões de euros, setores que não acrescentam valor social nem ecológico
e pouco tem feito para travar o abandono do mundo rural e a fixação de pessoas nos territórios de baixa
densidade. A questão é se o Governo está disponível para inverter estas prioridades e fazer investimento no
bem comum.
Aplausos de Deputados do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para responder a este conjunto de pedidos de esclarecimento,
tem a palavra o Sr. Ministro da Agricultura.
O Sr. Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural: — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O
Sr. Deputado José Luís Ferreira voltou a colocar a questão do eucalipto. Volto a afirmar que, naturalmente, o
Governo, nesta matéria como em todas as outras, cumprirá escrupulosamente os acordos políticos que foram
estabelecidos com os partidos que constituem a sustentação parlamentar deste Governo.