I SÉRIE — NÚMERO 108
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Demos um passo muito importante, é certo, no que diz respeito aos precários do Estado: fez-se um
levantamento sobre a dimensão — aliás, intolerável — da precariedade na Administração Pública e no setor
empresarial do Estado e está no Parlamento a lei que enquadra a regularização destes vínculos precários.
O Bloco já apresentou ao Governo as alterações que defende: os concursos não têm que ficar à espera até
fevereiro e a lei deve entrar em vigor quanto antes; os contratos atuais devem ser prorrogados desde já e até
que as pessoas sejam vinculadas; e o horário completo não é nenhum critério de laboralidade e, por isso, não
faz sentido colocá-lo como condição para regularizar situações ilegítimas de precariedade.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, a pergunta que quero fazer-lhe é muito concreta. Houve 26 000 trabalhadores
que, rompendo a insegurança e o medo que lhes foram impostos nos últimos anos, requereram a regularização
da sua situação às comissões de avaliação. Esse gesto dos trabalhadores é da maior importância, mas este
número de 26 000 está longe do universo que todos estimamos como sendo o dos trabalhadores que têm direito
a um vínculo.
Por isso, até ao fim deste mês, é aos dirigentes máximos dos organismos públicos, das entidades e dos
serviços, que cabe a imensa responsabilidade de completar este diagnóstico, identificando cada um e cada uma
das precárias do Estado que têm de ser vinculadas.
Esta identificação é crucial para o processo. É por isso que é tão importante um sinal forte do Governo sobre
a obrigação de os dirigentes identificarem os trabalhadores a prazo, os bolseiros, os estagiários utilizados para
necessidades permanentes, as falsas prestações de serviço, o falso outsourcing. Se o Governo der essa ordem,
os dirigentes que não identificarem cada um destes precários ficam sujeitos, pela lei, a sanções que podem ir
de repreensões ao afastamento da Administração.
A pergunta é, pois, clara: o Governo já deu alguma orientação expressa e contundente, por escrito, aos
dirigentes dos serviços sobre esta sua obrigação e sobre as consequências que existem, se deixarem algum
precário para trás?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Magalhães, do CDS-
PP.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr. Primeiro-Ministro,
começo por onde começou, quando disse que era fácil responder à pergunta da Presidente do CDS em relação
ao Sr. Ministro da Defesa e à Sr.ª Ministra da Administração Interna.
O Sr. Primeiro-Ministro disse que a resposta, e cito, «obviamente, é fácil porque, obviamente, não os demito».
O problema é precisamente esse: para si, é fácil, porque, obviamente, o Sr. Primeiro-Ministro não é um homem
para as horas más, é só um homem para as horas boas.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Ora bem!
Protestos do Deputado do PS Tiago Barbosa Ribeiro.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — O Sr. Primeiro-Ministro não é homem para dar más notícias, só é
homem para dar as boas notícias. Se há um incêndio, o problema é da Proteção Civil, é da GNR, é do SIRESP,
no limite é da Sr.ª Ministra, mas, diz, «comigo é que não é nada!»
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP) — Ora bem!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Se há um assalto em Tancos, o problema até pode ser do Chefe do
Exército, até pode ser do Sr. Ministro da Defesa Nacional, mas, diz, «meu não é, certamente!».
Sr. Primeiro-Ministro, o problema é de segurança de Portugal e o problema é que os portugueses já
perceberam que, quando as coisas correm mal, o timoneiro vai lá para fora e deserta. Esse é que é o problema
do Sr. Primeiro-Ministro.