I SÉRIE — NÚMERO 1
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O Sr. António Filipe (PCP): — Nesta Legislatura acabou o dogma de que as eleições legislativas se
resumiriam a uma escolha do partido de turno predestinado, no quadro de uma alternância sem alternativas, a
executar as políticas de exploração e de empobrecimento de muitos para o enriquecimento de poucos, de acordo
com o pensamento único ditado pelos interesses do grande capital financeiro.
Nesta Legislatura acabou a famigerada teoria do arco da governação, segundo a qual os partidos à esquerda
do PS não poderiam ter qualquer palavra a dizer quanto à solução governativa para o País, devendo permanecer
remetidos à marginalidade de um sistema político ideologicamente sequestrado por políticas de direita.
Esta Legislatura permitiu demonstrar que não há eleitores de primeira e de segunda e que todos os
Deputados de todos os partidos têm exatamente a mesma legitimidade democrática, a legitimidade que só o
povo português tem poderes para conferir.
O PCP tornou muito claros, desde a noite das eleições legislativas, os seus propósitos para a presente
Legislatura. Manifestou a sua disponibilidade para encontrar uma solução política que, no quadro da nova
correlação de forças da Assembleia da República, correspondesse à vontade manifestada pelo povo português
de afastar o PSD e o CDS da governação do País e afirmou que não desperdiçaria nenhuma oportunidade para
lutar pela defesa, reposição e conquista de direitos dos trabalhadores e do povo português.
Toda a ação do PCP nesta Legislatura tem sido norteada por estes propósitos, sem abdicar de um só dos
seus princípios, sem desistir das suas propostas e sem hesitar em rejeitar as medidas que considere negativas
para o povo e para o País.
É por isso, com total frontalidade, que o PCP considera deplorável que se mantenham convergências do PS
com os partidos de direita em questões estruturantes, relativas à soberania da República e à configuração do
regime democrático, como a legislação laboral, a submissão à NATO e à União Europeia, a ratificação do CETA
(Acordo Económico e Comercial Global) ou o acesso aos chamados metadados por parte dos Serviços de
Informações.
Aplausos do PCP.
E é com a mesma frontalidade e em total coerência que o PCP se congratula com a reposição, nesta
Legislatura, de muitos dos direitos que o Governo PSD/CDS havia roubado ao povo português e que muitos
consideravam perdidos para sempre. A viragem política que se operou com a nova fase da vida política nacional
não foi de mera cosmética. Teve efeitos muito positivos para as condições de vida de largos estratos da
população, particularmente para os menos favorecidos, e teve um impacto comprovadamente positivo para a
evolução económica do País. Mas é também em nome dessa coerência que o PCP afirma que a viragem
verificada fica muito aquém do que seria possível e do que continua a ser necessário.
Sem uma política patriótica e de esquerda, sem romper com a submissão ao euro, sem a renegociação de
uma dívida externa que suga grande parte dos recursos nacionais e sem o controlo público do sistema financeiro
não será possível afastar os constrangimentos que limitam de forma drástica as possibilidades de um
desenvolvimento económico e social sustentado do nosso País e de melhorar, de forma significativa, as
condições de vida dos trabalhadores e do povo.
As malfeitorias impostas pelo Governo PSD/CDS contra os direitos dos trabalhadores continuam por reverter,
designadamente em matéria de contratação coletiva, de regimes de férias, de horários de trabalho e de
reposição de carreiras. Os reformados continuam a não ver reconhecido o seu direito a não serem penalizados
após uma longa vida de trabalho e de contribuições. As freguesias extintas contra a vontade das populações
continuam por repor. Estão por dar passos mais decididos no sentido de garantir direitos fundamentais no acesso
à saúde, à educação, à habitação ou à proteção social.
O PCP não desistiu, não desiste e não desistirá de lutar por estes objetivos. Assim, no primeiro dia da sessão
legislativa que agora se inicia, o PCP reapresentou já, nesta Assembleia, um projeto de resolução que
recomenda a fixação do salário mínimo nacional em 600 € a partir de 1 de janeiro de 2018, projetos de lei que
visam consagrar 25 dias úteis de férias para os trabalhadores do setor público e do setor privado, um projeto de
lei que visa a reposição das freguesias extintas em 2013, de acordo com a vontade expressa pelas respetivas
populações, e um projeto de lei que altera o regime de concurso dos professores, de modo a garantir a
vinculação e a estabilidade da sua vida pessoal e profissional.